HESICASMO - PARTE 2
Característica da oração hesicasta
A oração hesicasta possui algumas características inconfundíveis. Vamos elencar as principais:
1. Oração monológica
A Sagrada Escritura não se cansa de exortar o/a fiel a rezar continuamente: “Orai sem cessar” (1Ts 5,17); “Orai incessantemente com toda a espécie de orações e súplicas no Espírito…” (Ef 6,18). Também Jesus costuma frisar a “necessidade de orar sempre, sem cansar” (cf. Lc 18,1), E exortar os seus discípulos: “Vigiai e orai!” (Lc 21,36).
A oração monológica (repetindo sempre uma só e a mesma coisa; do grego: monos: um só; e logos: palavra) é a preocupação de permanecer sempre na presença do Senhor, com orações simples e jaculatórias. A forma primitiva desta prece é o “Kyrie eleison”. A forma mais comum soa assim: “Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade de mim, pecador!” (cf. Lc 18,13 e 18,38). Trata-se de uma junção da oração do publicano da parábola com o grito do cego de Jericó, que implora a cura. A oração monológica é também chamada de “oração pura”.
Esta fórmula é a síntese de tudo aquilo que é necessário da parte de Deus e da criatura humana. A invocação: “Senhor Jesus, Filho de Deus” constitui o pressuposto divino de salvação (Deus quer salvar e salva de fato!); e a expressão: “tem de piedade de mim” constitui o pressuposto humano da confiança e da compunção do coração.
2. A Oração de Jesus ou o Poder do Nome
A oração hesicasta, chamada também de “Oração de Jesus”, devido à contínua invocação do Nome de Jesus, é a oração que vai haurir a sua força no poder do Nome divino. O Nome de “Javé”, no Antigo Testamento, e o Nome de Jesus, no Novo Testamento, se identifica com a Pessoa mesma e é causa de salvação para quem o invoca: “Todo aquele que invocar o Nome do Senhor será salvo” (At 2, 21).
Invocar o Nome significa deixar que Deus transforme a pessoa que O invoca por meio de seu Filho Encarnado com o poder ou a força do Espírito; significa deixar que Deus opere a contínua e progressiva cristificação. Em outros termos significa: contemplar a Deus e tornar-se a Ele semelhante. A oração contemplativa, de fato, é o diálogo do humano com Deus, é uma união mística.
O Nome de Jesus salva, cura, purifica, limpa o coração – dizem os autores hesicastas. São Basanúfio e São João, mestres espirituais no Deserto de Gaza (século VI) recomendam: “A memória do Nome de Jesus destrói completamente tudo aquilo que é mau”.
3. A Oração do coração contrito
A segunda parte da Oração de Jesus: “Tem piedade de mim, pecador” revela a atitude fundamental do humano frente a Deus – a fé, a tranqüilidade dentro de si, a certeza de que só Deus salva. É a “metanóia”, a mudança radical da criatura para melhor, a partir da força/do poder do próprio Senhor.
Sisões, o Grande (séc. V), não satisfeito com 62 anos de austeridades, em seu leito de morte confessava perante os outros monges: “Parece-me que ainda nem comecei a fazer penitência”.
Os monges do Monte Athos, repetindo a oração de Jesus, usam uma espécie de Rosário, chamado “komboschini”, que os ajuda a contar as invocações feitas… É composto de 100 nós, divididos em intervalos de 25, onde se fazem as “conversões”, isto é, prostrações profundas, grandes inclinações. Arrependimento e prostações demonstram a atitude física e psíquica dos convertidos do Evangelho.
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4. Orar com o coração
A oração hesicasta é também chamada de “oração do coração”. A noção de “coração” é um elemento essencial na espiritualidade oriental. O coração é o centro do ser humano, a raiz da faculdade ativa do intelecto e da vontade, o ponto de onde provém e para onde converge toda a vida espiritual. É a fonte, obscura e profunda de onde jorra a vida psíquica e espiritual da criatura humana.
A criatura humana costuma dispersar-se em muitas coisas, sobretudo através dos pensamentos. Pela inteligência, o espírito conhece um mundo mais externo, e corre o risco de perder o contato com o mundo espiritual. Orar com o coração significa voltar os olhos mais para a interioridade. Para reconstruir e reunificar a pessoa, é necessário reencontrar uma relação mais harmoniosa entre a inteligência e o coração.
Continua...
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