Experiências Fora do Corpo (2) na Literatura Ocultista e a Visão Cristã
Experiências "Fora do Corpo" na Literatura Ocultista (Pe. Seraphim Rose) - Parte 2/3
5. "Viagem Astral"
Quase todas as experiências "pós morte" recentes foram extremamente breves; se tivessem sido mais longas, a morte real teria ocorrido. Mas no estado "fora do corpo" que não está ligado a condições de quase-morte, é possível uma experiência mais longa. Se esta experiência for de duração suficiente, pode-se deixar o ambiente imediato para trás e entrar em uma paisagem completamente nova, não apenas para um breve vislumbre de um "jardim" ou de um "lugar luminoso" ou de uma "cidade celestial", mas para para uma "aventura" prolongada no reino aéreo. O "plano astral" é, evidentemente, bastante próximo de cada homem, e certas experiências críticas (ou técnicas mediúnicas) podem "projetar" o homem, fazendo-o entrar em contato com esse reino. Em um de seus livros, Dr. Carl Jung descreve a experiência de um de seus pacientes, uma mulher que teve uma experiência "fora do corpo" enquanto sofria um parto difícil. Ela enxergava os médicos e as enfermeiras ao redor dela, mas estava ciente de que atrás dela havia uma paisagem gloriosa que parecia ser a fronteira de outra dimensão; sentia que se ela se fosse naquela direção, deixaria essa vida - mas ela voltou para o corpo.
O Dr. Moody registrou várias dessas experiências, as quais chama de experiências de "fronteira" ou "limite" (Life after Life, pp. 54-57).
Aqueles que induzem deliberadamente a experiência de "projeção astral" são muitas vezes capazes de entrar nesta "outra dimensão". Recentemente, as descrições de certo homem sobre suas "jornadas" nesta dimensão alcançaram certa fama, o que lhe permitiu estabelecer um instituto dedicado as experiências no estado "fora do corpo". Um dos alunos deste instituto foi a Dra. Elizabeth Kubler-Ross, que concorda com as conclusões de Monroe no que diz respeito a semelhança das experiências "fora do corpo" e do estado "pós-morte". Resumiremos aqui as descobertas deste experimentador.
Robert Monroe é um executivo americano bem-sucedido de negócios (presidente do conselho de administração de uma corporação multimilionária) e agnóstico quanto a religião. Suas experiências "fora do corpo" começaram em 1958, antes de ter algum interesse na literatura ocultista, quando estava realizando seus próprios experimentos de técnicas de aprendizagem de dados durante o sono; isso envolvia exercícios de concentração e relaxamento semelhantes a algumas técnicas de meditação. Depois de iniciar esses experimentos, ele teve a experiência incomum na qual parecia ter sido atingido por um feixe de luz, que lhe causou uma paralisia temporária. Após essa sensação ter sido repetida várias vezes, ele começou a "flutuar" fora do corpo, e então começou a experimentar, induzindo e desenvolvendo essa experiência. No começo de suas "viagens" ocultas, ele revela as mesmas características básicas - uma meditação passiva, uma experiência de "luz", uma atitude de confiança e abertura para experiências novas e estranhas, tudo em conjunto com uma visão prática da vida e ausência de consciência profunda ou experiência do cristianismo - o que abriu para Swedenborg suas aventuras no mundo dos espíritos.
No início, as "viagens" de Monroe eram para locais reconhecíveis na terra - lugares próximos da terra, no começo, e depois para lugares mais distantes - com algumas tentativas bem-sucedidas de trazer evidências reais das experiências. Então ele começou a entrar em contato com figuras semelhantes a fantasmas, o primeiro contato sendo parte de um experimento mediúnico (o "guia indiano" enviado pelo médium realmente veio até ele!, p.52). Finalmente, ele começou a entrar em contato com paisagens estranhas aparentemente não mais terrestres.
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Tomando notas detalhadas sobre suas experiências (que registrava assim que voltava para o corpo), ele classificou todas essas como pertencendo a três "locais": "local I" é o "aqui-agora", o normal - o ambiente mundano. "local II" é um ambiente "não-material", aparentemente imenso, com características idênticas às do "plano astral". Esse local é o "ambiente natural" do "Segundo Corpo", como Monroe chama a entidade que viaja neste reino; tal reino "interpenetra" o mundo físico, e suas leis são as do pensamento: "assim como você pensa, assim você é", "semelhante atrai semelhante", para viajar é necessário apenas pensar em seu destino. Monroe visitou vários "lugares" neste reino, onde viu coisas como um grupo de pessoas vestindo longas vestes em um vale estreito (p. 81) e uma série de pessoas uniformizadas que se chamavam "exército alvo" que esperavam por tarefas (p. 82). O "local III" é uma realidade aparentemente terrestre que, no entanto, é diferente de qualquer coisa conhecida nesta terra, com características estranhamente anacrônicas; os teosofistas provavelmente compreenderiam como apenas uma parte mais "sólida" do "plano astral".
Depois de superar em grande parte o seu sentimento inicial de medo ao encontrar-se nesses reinos desconhecidos, Monroe começou a explorá-los e descrever os muitos seres inteligentes que lá encontrou. Em algumas "jornadas", encontrou amigos "mortos" e conversou com eles, mas, mais frequentemente, ele encontrou seres impessoais estranhos que, às vezes, o "ajudaram", mas que muitas vezes não respondiam o seu chamado; seres que davam vagas mensagens "místicas" que soavam como as comunicações dos médiuns, que podiam apertar a sua mão, mas que provavelmente desejavam cravar um gancho na mão oferecida (p. 89). Alguns desses seres ele reconheceu como "defensores": criaturas semelhantes a animais com corpos de borracha que facilmente mudavam para formas de cães, morcegos ou seus próprios filhos (p. 137-140), e outros que provocavam e atormentavam ele e simplesmente riam quando chamava (não pela fé, é verdade, mas apenas como outro "experimento") o nome de Jesus Cristo (p. 119).
Não tendo fé própria, Monroe abriu-se às sugestões "religiosas" dos seres desse reino. Ele recebeu visões "proféticas" de eventos futuros, que às vezes, de fato, aconteceram como ele viu (p. 145). Certa vez, quando um raio de luz branco lhe apareceu nos limites do estado fora-do-corpo, ele o pediu por algumas respostas às suas questões sobre este reino. Uma voz vindo do raio respondeu: Peça ao seu pai para lhe contar o grande segredo". Na próxima oportunidade, Monroe rezou: "Pai, guia-me. Pai, diga-me o grande segredo" (p. 131-2). A partir de tudo isso é óbvio que Monroe, apesar de permanecer "secular" e "agnóstico" em sua própria perspectiva religiosa, entregou-se livremente para ser usado pelos seres do reino oculto (que, é claro, são demônios).
Tal como o Dr. Moody e outros investigadores neste reino, Monroe escreve que "em doze anos de atividades não-físicas, não encontro nenhuma evidência para sustentar as noções bíblicas de Deus e a vida após a morte num lugar chamado céu" (p. 116). No entanto, assim como Swedenborg, os teosofistas e os investigadores como o Dr. Crookall, ele encontra no ambiente "não-material" que explorou "todos os aspectos que atribuímos ao céu e ao inferno, que são apenas parte do local II" (p. 73). Na área aparentemente "mais próxima" do mundo material, ele encontrou uma área cinza-negra povoada por "seres roedores atormentantes"; isto, ele pensa, pode ser a "fronteira do inferno" (p. 120-121), ao invés da região "Hades" identificada por Dr. Crookall.
O mais revelador, no entanto, é a experiência de Monroe do "céu". Três vezes ele viajou para um lugar de "paz pura", flutuando em nuvens mornas e suaves que eram dispersas por raios coloridos de luz que mudavam constantemente, vibrando em harmonia com a música de coros sem palavras; havia seres sem nome ao redor no mesmo estado, com os quais ele não tinha contato pessoal. Ele sentiu este lugar como seu "Lar" final, e ficou sozinho por alguns dias após o fim da experiência (p. 123-5). Este "céu astral", é claro, é a fonte suprema do ensinamento teosofista sobre a "agradabilidade" do outro mundo; mas quão longe está do verdadeiro ensinamento cristão do Reino dos Céus, muito além desse reino aéreo, que em sua plenitude de amor, personalidade e presença consciente de Deus tornou-se completamente distante dos incrédulos do nosso tempo, que não pedem nada mais do que um "nirvana" de nuvens suaves e luzes coloridas! Os espíritos caídos podem facilmente fornecer essa experiência de "céu"; mas somente a luta cristã e a graça de Deus podem elevar ao verdadeiro céu de Deus.
Em várias ocasiões, Monroe encontrou o "Deus" de seu paraíso. Este evento, diz ele, pode ocorrer em qualquer lugar no "local II". "No meio da atividade normal, onde quer que esteja, há um Sinal distante, quase como trombetas heráldicas. Todo mundo entende o Sinal calmamente, e com isso, todos param de falar ou o que quer que se esteja fazendo. É o Sinal de que Ele (ou Eles) está vindo através de Seu reino.
"Não há nenhuma prostração aterradora ou seres caindo de joelhos. Em vez disso, a atitude é mais importante. É uma ocorrência à qual todos estão acostumados e cumpri-la tem prioridade absoluta sobre tudo. Não há exceções".
No Sinal, cada ser humano se deita ... com a cabeça virada para um lado para que não o vejamos enquanto Ele passa. O propósito parece ser formar uma estrada viva sobre a qual Ele possa percorrer... Não há movimento, nem mesmo pensamento, enquanto Ele passa...
"Nas diversas ocasiões em que presenciei isso, deitei-me junto com os outros. Na hora, o pensamento de agir contrariamente era inconcebível. À medida que Ele passa, ouve-se um trovejante som musical e uma sensação de radiante e irresistível força de extremo poder, que chega ao ápice nas nossas cabeças e desaparece à distância... É uma ação tão habitual como o parar do semáforo em um cruzamento ocupado, ou esperar no cruzamento ferroviário quando o sinal indica que o trem está chegando; você não está preocupado E ainda sinto o respeito tácito pelo poder representado no trem de passagem. O evento também é impessoal.
"Será isso Deus? Ou o filho Dele? Ou Seu representante?" (p. 122-3).
Seria difícil encontrar, na literatura ocultista, um relato mais vívido do culto de satã em seu próprio reino por seus escravos impessoais. Em outro lugar, Monroe escreve seu próprio relacionamento com o príncipe do reino em que ele penetrou. Certa noite, alguns anos após o início de suas jornadas "fora do corpo", sentiu-se banhado pelo mesmo tipo de luz que acompanhou o início dessas experiências, e sentiu a presença de uma força pessoal muito forte, inteligente, que o deixou impotente e sem vontade própria. "Eu tive a nítida impressão de que eu estava indissoluvelmente ligado a essa força-inteligência por lealdade, que sempre estivera, e que eu tinha missão a cumprir aqui na terra." (p. 260-261). Em outra experiência semelhante com essa força ou "entidade" invisível várias semanas depois, aquilo (ou eles) parecia entrar e "buscar" em sua mente, e então, "eles pareciam se aproximar do céu, enquanto eu os chamava, implorando. Então eu tinha certeza de que sua mentalidade e inteligência estavam muito além do meu entendimento. É uma inteligência impessoal e fria, sem nenhuma das emoções de amor ou compaixão que respeitamos tanto ... Sentei-me e chorei, grandes soluços profundos, como nunca tinha chorado antes, porque então eu sabia sem qualificação ou futura esperança de mudança que o deus da minha infância, das igrejas, da religião em todo o mundo não era como adorávamos que ele fosse - que, pelo resto da minha vida, eu "sofrerei" a perda dessa ilusão" (p.226). Dificilmente alguém poderia imaginar uma melhor descrição do encontro com o diabo que tantos dos nossos contemporâneos ingênuos estão agora passando, incapazes de resistirem por causa de seu afastamento do verdadeiro Cristianismo.
O valor do testemunho de Monroe sobre a natureza e os seres do "plano astral" é importante. Embora ele próprio tenha se envolvido profundamente e realmente tenha entregue e submetido sua alma aos espíritos caídos, ele descreveu suas experiências em uma linguagem direta, não oculta e de um ponto de vista humano relativamente normal que faz do seu livro uma advertência persuasiva contra "experimentos" neste reino. Aqueles que conhecem o ensinamento cristão ortodoxo do mundo aéreo, bem como do verdadeiro céu e inferno que estão fora dele, só poderão convencer-se ainda mais da realidade dos espíritos caídos e do seu reino, bem como do grande perigo de contactá-los, mesmo através de uma abordagem aparentemente "científica". Como observadores cristãos ortodoxos, não precisamos saber quanto dessa experiência foi "real" e quanto foi resultado de espetáculos e ilusões projetados para ele pelos espíritos caídos; o engano faz tanto parte do reino aéreo que não faz sentido nem tentar desvendar suas formas precisas. Mas o que ele encontrou, o domínio dos espíritos caídos, não se pode duvidar.
O "plano astral" também pode ser contactado (mas não necessariamente em um estado "fora do corpo") através do uso de certas drogas. Experimentos recentes na administração de LSD em pessoas moribundas produziram experiências muito convincentes de "quase-morte", juntamente com uma "retrospectiva condensada" de toda a vida, visão de luz cegante, encontros com os "mortos" e com "seres espirituais" não-humanos e a comunicação de mensagens espirituais sobre as verdades da "religião cósmica", "reencarnação" e similares. Dra. Kubler-Ross também esteve envolvida nestas experiências.
É sabido que os xamãs de tribos primitivas entram em contato com o mundo aéreo dos espíritos caídos em estados "fora do corpo", e uma vez "iniciados" nesta experiência podem visitar o "mundo dos espíritos" e comunicar com seus seres.
A mesma experiência era comum entre os iniciados dos "mistérios" do antigo mundo pagão. Na vida de São Cipriano e Justina (2 de outubro), temos o testemunho de primeira mão de um ex-feiticeiro sobre suas experiências neste reino:
"No Monte Olimpo Cipriano estudou todas as formas de artes diabólicas: dominou várias transformações demoníacas, aprendeu a mudar a natureza do ar ... Neste lugar, viu uma infinita legião de demônios, com o príncipe das trevas como líder; alguns ficaram diante dele, outros o serviram, outros clamavam louvores ao seu príncipe, e alguns eram enviados ao mundo para corromper as pessoas. Aqui, ele também viu em suas formas falsas os deuses e deusas pagãs, e também fantasmas e espectros diversos, cuja invocação ele aprendeu com um rigoroso jejum de quarenta dias....Assim, ele se tornou um feiticeiro, mago e destruidor de almas, um grande amigo e escravo fiel do príncipe do inferno, com quem ele conversou cara a cara, tendo recebido dele grande honra, como ele próprio testificou. 'Acredite-me', ele disse, 'eu vi o próprio príncipe das trevas... eu o cumprimentei e seus anciãos ... ele prometeu fazer-me um príncipe depois da minha partida do corpo e durante minha vida terrena me ajudar em tudo ... A aparência externa do príncipe das trevas era como uma flor. Sua cabeça estava coberta por uma coroa (não real, mas fantasmagórica) feita de ouro e pedras brilhantes, o que fazia o espaço inteiro iluminado ao seu redor; e sua roupa era surpreendente. Quando ele se voltava para um lado ou outro, todo aquele lugar tremia, uma multidão de espíritos malignos de vários graus obedientemente se posicionavam a este trono. Eu me entreguei inteiramente ao seu serviço naquele tempo, obedecendo a cada um de seus comandos" (The Orthodox Word 1976, n. ° 70, pp. 136-138).
São Cipriano não afirma explicitamente que ele teve essas experiências fora do corpo; de fato, parece que feiticeiros e adeptos mais avançados não precisam deixar o corpo para conseguir contato pleno com o reino aéreo. Swedenborg, mesmo descrevendo suas próprias experiências "fora do corpo", afirmava que a maior parte de seu contato com espíritos se dava, pelo contrário, no corpo, mas com suas "portas de percepção" abertas (Heaven and Hell, seções 440-442). Ainda assim, as características desse reino, e as "aventuras" de alguém ali, são iguais, seja "dentro" ou "fora" do corpo.
Um dos famosos feiticeiros pagãos da antiguidade (século II), ao descrever sua iniciação nos mistérios de Isis, nos dá um exemplo clássico de experiência "fora do corpo", o contato com o reino aéreo, que poderia ser usado para descrever algumas das experiências "fora do corpo" e "pós-morte" de hoje:
"Eu vou registrar (de minha iniciação) tanto quanto eu possa registrar licitamente para os não iniciados, mas apenas na condição de que você acredite. Eu me aproximei dos próprios portões da morte e pus um pé no limiar de Prosérpina, ainda assim fui autorizado a retornar, extasiado por todos elementos. À meia-noite, o sol brilhava como se fosse o meio-dia. Eu entrei na presença dos deuses do submundo e dos deuses do mundo superior, chegando perto e adorei-os. Bem, agora você já ouviu o que aconteceu, mas temo que você ainda esteja confuso."
Continua...
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