O Culto Luterano Explicado - parte 2
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8. Kyrie
Muitos não vêem outra coisa senão uma confissão de pecados. Neste caso, uma 2ª confissão no mesmo culto.
Embora esteja presente este aspecto penitencial, contudo isto não esgota o sentido do “Senhor tem piedade...”
- Em primeiro, salta à vista seu caráter trinitário. Seu uso no culto reflete o uso de expressões semelhantes a Bíblia (Salmo 25. 16; 26. 11).
- - Trata-se de um clamor, um pedido de auxílio (que nem sempre é um pedido de perdão). Neste sentido corresponde ao sentido original da palavra “hosana” = “Oh salva-nos Senhor”.
- No Kyrie confessamos a nossa fraqueza e nossa dependência de Deus.
- O Kyrie também é uma forma de aclamação. Nele a congregação acalma o Senhor que vem ao seu encontro no culto, mediante Palavra e Sacramento.
9. O Glória in Excelsis
É o grande hino de louvor da primeira parte do culto. É uma das partes mais antigas do culto; talvez surgiu na Igreja Oriental. O “grande Glória” como também é chamado exalta o Deus Triúno por sua obra.
Vem imediatamente após o Kyrie, e suas palavras são uma reposta ao Kyrie, proclamando a Glória de Deus, lembrando a sua infinita bondade, mandou seu Filho para ser o Salvador do mundo. O glória logo após o Kyrie muda completamente a sua disposição, sua estrutura de exaltação e louvor à Santíssima Trindade, nos leva a contemplar o divino e, através da consciência da necessidade humana, a glorificar sua majestade, poder e santidade.
q Sua abertura portanto, é dirigida ao Deus Pai todo-poderoso.
q Sua parte do meio é uma gloriosa confissão da divindade de Cristo, “o Unigênito de Deus”. Portanto, não é apenas um hino de exaltação ao Pai, mas é um júbilo pela sua Redenção.
· Por um momento cessam os pedidos de ajuda e mercês, para dar lugar a um glorificar a majestade de Deus, dirigindo-se assim para a parte final, exaltando ainda o Cristo, juntamente com o Espírito Santo “que estão no mais alto grau de glória juntamente com o Pai”.
· Desde o seu início até nós, através dos séculos, nós só podemos ver através deste cântico um grande senso de dignidade, uma grande fé, um fervor devocional dos verdadeiros cristãos, assim como nós cantamos este simples, mas profundo cântico, usado ainda hoje em nossos cultos.
· Como Kyrie, o Gloria in Excelsis inspirou muitas composições notáveis. No entender de Lutero este hino não foi feito na terra, mas este veio do céu. De fato, as palavras iniciais fazem parte do coro dos anjos quando do nascimento de Jesus. Lutero o colocou no seu lugar usual na sua Ordem de Culto Latina, mas omitiu qualquer referência a este em sua Missa Alemã.
· O “culto comum” restaurou o texto completo do Glória, e a “Liturgia Comum” prescreve seu uso em festas e sempre que tem a comunhão. Em outros termos nenhum outro hino de louvor era permitido no interesse de variar o material litúrgico. Uma mudança poderia ser feita em certas épocas, para dar maior dinâmica a esta parte do culto.
· A mais primitiva forma do Gloria in Excelsis data do 4º Século, mas é provável que seja mais antigo. É encontrado nas “Constituições Apostólicas”, e é mencionado por Atanásio (373 A.D.). Não existem provas concretas, mas acredita-se que tenha sido escrito no 1º ou 2º Século.
· É dividido em três partes: A parte do meio antecipa a fraseologia do Agnus Dei.
· Na sua forma original o Gloria in Excelsis era um “Salmo Privado”, cantado em grego na manhã do culto, mas não como parte da Missa. Em conteúdo assemelha-se ao Magnificat e ao Benedictus. As principais versões do original são assim distinguidas:
1. A versão Síria;
2. A versão Grega, das “Constituições Apostólicas”;
3. A Grega, da Liturgia Bizantina, que passou para o nosso texto Ocidental.
O Gloria in Excelsis foi mais provavelmente introduzido no culto com santa ceia na Igreja Ocidental, em conexão com o Natal. Era particularmente apropriado por causa do coro dos anjos no tempo do nascimento de nosso Senhor. A encarnação e a Comunhão são manifestações da presença de Cristo entre os homens.
· Por séculos o Gloria foi privilégio exclusivo dos bispos e pastores, somente permitindo o seu canto na Páscoa. Desde o Século XI a frase de abertura tem sido cantada pelo oficiante e o restante era cantado pelo coro ou pela congregação.
· O Gloria conclui a primeira parte do Culto. Esta parte tem sido preparatória e de caráter largamente sacrificial. A partir deste ponto o elemento sacramental é dominante. O Gloria in Excelsis é sacrificial em seu caráter, e o ministro, voltado para o altar, quando recita a frase inicial. O uso responsivo do período Pré-reformatório da igreja tem continuidade em muitas igrejas alemãs e escandinavas, e tem sido aceita na liturgia. De acordo com isto o ministro diz ou canta a primeira frase e o corpo e a congregação iniciam cantando com “... e na terra paz...” A reintrodução desta prática eliminou definitivamente a repetição da frase de abertura.
· Às congregações com dificuldades no canto, sugere-se que variem de vez em quando, ao invés de cantar, podiam recitar. Em certas ocasiões poderiam substituir por um hino de mesmo conteúdo, mas jamais deveria ser simplesmente omitido.
10. A Saudação
A primeira divisão do ofício da palavra encerra com o Glória in Excelsis. Uma nova e predominante divisão sacramental começa com a saudação. Essa forma essencialmente hebraica de saudação e resposta expressa o conteúdo do termo hebraico Emanuel – Deus Conosco. No livro de Rute 2.4, vemos que quando Boaz veio de Belém ele disse aos ceifeiros: “o Senhor esteja convosco”, e eles responderam: “O Senhor te abençoe”. O anjo do Senhor apareceu a Gideão e disse-lhe: “O Senhor é contigo” (Jz 6.12). Também no N.T., quando o arcanjo Gabriel apareceu a Maria, ele a saudou com esta exclamação: “Alegra-te muito, favorecida! O Senhor é contigo” (Lc 1.28). O apóstolo Paulo também faz uso desta saudação em suas cartas. E assim, particularmente antes dos atos sacramentais tais como a leitura da palavra ou a administração da Santa Comunhão, nós temos a saudação e a reposta. A frase final obteve lugar na liturgia cristã como uma resposta significativa na introdução de uma nova parte do culto. Esta (saudação) precede a coleta, o Prefácio, o Benedicamus, etc, e introduz o uso de coleta e orações gerais tanto nas matinas como nas vésperas.
· A saudação e sua resposta não são dirigidas a Deus, mas aos homens. Estas constituem uma oração recíproca do ministro em relação a seu pessoal, e da congregação em relação a seu pastor antes deles, em conjunto, oferecem suas petições a Deus. Assim como servem de constante lembrança da relação pastoral quando “renova as relações da fé e propósitos comuns” em novos atos de adoração. Há diversas maneiras de responder a esta saudação. Usamos constantemente a forma “E com o teu espírito”, ainda que o comissionamos a falar em nome de todos. Loehe disse: “Os laços de amor e união entre o pastor e a congregação são novamente um encontro”. Quando se diz: Oremos, fica claro que o ato é de caráter corporativo. É a oração da congregação e de toda a igreja seja em dias comuns ou de festas.
· O ministro volta-se para a congregação e, de acordo com o uso primitivo, estende suas mãos e profere as palavras. O estender das mãos expressa o ardente desejo e o pedido zeloso do pastor de que as orações sejam atendidas. O Estender das mãos significa que o pastor humildemente “desconfia” de si mesmo e confidencialmente abandona-se a si mesmo para o Senhor. Após a resposta da congregação o pastor volta-se ao altar, e segue a ordem litúrgica.
q E com o teu espírito (forma latina: Et cum spirito tuo).
q E contigo também.
q Ele está no meio de nós.
q O Senhor te abençoe.
11. Coleta da Dia
Tem algo a ver com o verbo coletar, pois esta oração pretendia ser um reunião dos anseios de toda a congregação.
Para variável do culto; em referência ao dia. Para cada Domingo há uma diferente. Sendo sua função principal, preparar a mente para o momento.
Ela foi usada em larga escala por crentes, no mundo inteiro, durante os últimos cinco séculos; sendo parte importante em relação a liturgia.
São usadas por romanos, luteranos e anglicanos.
Voltam-se a humildade de espírito, dando unidade e harmonia a parte litúrgica. Sendo excelente em conteúdo devocional, expressão doutrinal, com uma forma linda.
A perfeita coleta é uma forma de arte; valioso valores poéticos são expressados, não na rima de palavras, mas na rima de pensamentos. O mérito essencial das coletas é o conteúdo espiritual fervoroso e sincero.
As coletas, ou também chamadas orações do dia, são escritos de vinte (20) orações do cristianismo. Provindas do antigo costume romano, proferida depois da litania e de um hino na parte litúrgica permanente da igreja. Provindo da vida monástica, seria parte depois da leitura de um Salmo.
As coletas foram traduzidas do Latim e, geralmente contém cinco partes:
1) Invocação.
2) Base para a Petição.
3) Petição.
4) Propósito ou beneficio desejado.
5) Fim = doxologia.
Freqüentemente a Segunda ou quarta parte são omitidas; ocasionalmente as duas. As três primeiras partes são chamadas na oração dos discípulos depois da Ascensão. A petição liga-se ao comando de Deus. São dirigidas na maioria ao Pai; possuindo a parte final fundamento na obra messiânica. Revelando sempre o Deus Triúno no qual cremos.
Talvez você pergunte: Por que não coletar de fato neste momento do culto, ou seja, por que não incluir intercessões, ações de graça, etc, na coleta, fazendo dela uma oração mais longa? A questão merece reflexão. Talvez fosse inconveniente uma oração mais longa neste momento do culto, uma vez que a oração não deixa de ser uma resposta à Palavra de Deus, a qual, até esse momento do culto ainda não foi proclamada.
A antiga coleta estabelece algo típico romano; sendo escritas bem anteriormente, mas aparecem somente um pouco antes do nascimento de Lutero. O seu uso já era costume no século XI e no século XIII são descritas de acordo com a ordem e solenidade de festas.
Eram usadas sete coletas não excedendo por causa do número de petições de Cristo no Pai Nosso. Lutero restringe o número para uma, antes da epístola, hoje a Coleta do Dia. Lutero também traduz várias coletas e toma outras como base, introduzindo um tom evangélico; e, a partir dessa época, são largamente usadas.
12. As Leituras Bíblicas
Nas sinagogas regularmente havia a leitura da Lei e dos Profetas (Lc 4.16-21). Seleção de Epístolas e algumas passagens dos Evangelhos também foram, posteriormente, incluídas. As Liturgias Ambrosianas já continham a leitura do Antigo Testamento e o do Novo Testamento (Epístola e Evangelho).
Desde os tempos apostólicos a leitura da Escritura Sagrada tem sido um fator de grande importância, e o ponto alto da liturgia cristã. A primeira seção de leituras dos apóstolos e do evangelho eram lidas consecutivamente. Não havia seções fixadas. O desenvolvimento do ano eclesiástico fez com que se observasse certas leituras para certos dias. As três grandes festas foram as primeiras a delimitar e definir certas leituras.
É importante notar que Epístola e Evangelho precisam sempre ser lidos, bem como a leitura do Antigo Testamento, por longos anos omitida em muitas liturgias, é igualmente de grande valor. As três leituras revelam aspectos importantes na História da Salvação: O Antigo Testamento – A Promessa; A Epístola – O testemunho dos apóstolos a respeito do cumprimento das profecias; O Evangelho – a voz do próprio Messias, proclamando a Salvação. Estes, normalmente, são chamados de “Liturgia ou Ofício da Palavra”. É o Senhor quem nos fala. O que ele diz a nós é mais importante do que o que nós dizemos a Ele.
12.1. Séries de Leituras
Carlos Magno (600 A.D.) elaborou e autorizou a Série inteira de leituras. Certamente já se fazia uma leitura sistemática, de acordo com o Ano Eclesiástico, das diversas partes da Bíblia. A presente série em uso tem nos levado aos tempos primitivos. A Constituição Apostólica menciona duas leituras do Antigo Testamento, o livro de Atos, a Epístola e o Evangelho. Na Série Histórica, usada durante anos na Igreja Luterana, constata-se a ausência da Leitura do Antigo Testamento e que, nas leituras propostas, nem sempre é possível descobrir algum nexo vertical (semelhança entre Epístola e Evangelho) ou nexo horizontal (progressão de um Domingo para outro). Em parte isto se deve ao fato de conservarmos apenas um fragmento da estrutura original, pois os reformadores retiveram apenas os textos dos domingos e dias festivos.
Lutero posicionou-se quanto a série dizendo que a mesma não deveria ser adotada como inspirada por Deus. Diz ele: “Caso no futuro a língua nacional vier a ser adotada na missa, então se deveria fazer o possível para que fossem lidas na missa epístolas e evangelhos tirados das melhores partes desses livros.
Surgiram, então, no correr dos séculos, novas séries de perícopes. Na Igreja Luterana Mundial, em tempos recentes, houve por assim dizer, dois desenvolvimentos: os europeus se empenharam em revisar a Série Histórica e os norte-americanos trabalharam num sistema Trienal. Este sistema concorda em aproximadamente metade dos casos com o Ordo Lectionum Missae, da Igreja Católica Romana, fruto do Vaticano II, e publicado em 1969. Na verdade o Ordo Romanum serviu de base para o sistema Trienal dos episcopais, presbiterianos e luteranos. O sistema Trienal americano ficou pronto em 1973, Foi adotado pela IELB em 1982 (maiores detalhes da Série Trienal, ver “Preciso Falar” – VI, p.33).
12.2. Antigo Testamento
A omissão da leitura do Antigo Testamento durante muitos anos nos leva a pensar que a mesma tivesse menos importância. Não é o caso. A reflexão e a devida revisão da Série Histórica e a elaboração das Séries Trienais devolveram ao Antigo Testamento o lugar devido na liturgia, por entender que “promessa e cumprimento” fazem o todo da Escritura. Essa leitura não deveria ser omitida para “ganhar tempo”. Se houver a necessidade de abreviar o ato litúrgico, omita qualquer outra coisa, menos as leituras bíblicas.
12.3. Epístola
Epístola e Evangelho não são distintivamente anglicanos, luteranos ou católicos. Muito menos propriedade exclusiva desta ou daquela denominação religiosa. Ninguém pode reclamá-las como ordem de sua liturgia.
A Epístola e o Evangelho (bem como as demais partes da liturgia) são mais antigos do que qualquer denominação religiosa, são partes comuns da Igreja Cristã e pertencem ao corpo da Igreja Histórica.
As leituras deveriam ser feitas diante do altar. Historicamente o púlpito de leitura (ambão) era reservado para Matinas e Vésperas.
12.4 Gradual
Feita a leitura da Epístola a congregação canta a curta resposta. Originalmente havia 3 partes: Gradual, o Aleluia e a Seqüência. Um Coral responde à Epístola e introduz o Evangelho. Conhecido como um “canto de passagem”, contendo porções dos Salmos.
Gradual – Provindo desde a época da sinagoga, sendo proferido por um coral ou pela congregação, como interlúdio entre as leituras, ligando-se a muito as passagens. Nos velhos tempos era costumeiro cantar um Salmo inteiro após a leitura da Epístola. Esse Salmo foi encurtado para 3 versos do Salmo e 3 aleluias. Este Salmo encurtado era cantado pelo Kantor, em frente do púlpito e se chamavaGradual, significando andadura. Esta primeira parte reflete o pensamento da Epístola. Lutero com a apreciação do culto e seu amor à música, mantém o gradual latino.
Em nossos dias está sendo usado o Gradual para o dia de forma cantada. Foram arrolados graduais para o ano inteiro. O Kirchenbuch de 1877 aponta para o Aleluia como substituto do Gradual. Pode-se cantar também um hino em seu lugar.
No caso de o coro ter um hino apropriado para a ocasião, aqui seria um bom lugar para isto acontecer. Deveria estar harmonizado com o tema do dia. O Gradual compõe-se do seguinte: dois Versos de um Salmo; dois Aleluias; outro verso e mais um Aleluia. A congregação poderá permanecer sentada durante o Gradual. Havendo um bom coro, não há razões para que o Gradual não possa ser cantado por ele.
Aleluia – O Aleluia é a resposta alegre pela congregação à Palavra de Deus, especialmente diante da aproximação do Evangelho. É a Segunda parte do Gradual e serve de prelúdio ao Evangelho, significando Vitória.
Seqüência – Foi desenvolvida em torno do 8º século. Depois do Século XVI tomou forma rítmica e tornou-se o hino próprio na estrutura.
12.5. Evangelho
Nos tempos antigos a leitura ou cântico do Evangelho era tido como o clímax da primeira parte do culto, o Ofício da Palavra. Toda a pompa que rodeia em torno do Evangelho, demonstra simbolicamente a importância desta parte do Culto, onde o próprio Jesus nos fala através das palavras dos quatro evangelistas.
Apresenta o centro, o objetivo do pensamento do dia. Relembra a Jesus em sua simplicidade, sinceridade e poder, revelando a nós o Cristo de Deus em sua humilhação e majestade de sua divindade. Relembra suas ações, conversações e ensinamentos. A sua leitura em culto público sempre foi acompanhada de honra especial, por ser a revelação da natureza divina de nosso Senhor nas palavras escritas.
Três antigas praxes são mantidas no culto luterano: a) O levantar das pessoas em obediência e reverência; b) as frases de louvor ao anúncio; c) a leitura feita à frente do altar.
O responso da congregação, “Glórias a ti, Senhor” e “Glórias a ti, ó Cristo”, é a profissão de fé; foi usada na igreja primitiva nos dias de perseguição, expressando o reconhecimento da presença real de Cristo no culto. É interessante observar a melodia destes responsos: a do “Glórias a ti, Senhor”, é descendente, simbolizando a humanação de Cristo; a do “Glórias a ti, ó Cristo”, é ascendente e descendente, simbolizando a sua ascensão e o cumprimento de sua promessa de sempre estar aqui conosco e que um dia voltará visivelmente.
13. A Confissão de Fé (Os Credos)
Confessar publicamente a fé ou aquilo que se crê é, não apenas uma necessidade, mas um dever da igreja cristã. Esse confessar tem parte ativa nos cultos dominicais. É a resposta da Igreja à Palavra de Deus. É uma expressão clara da obra da salvação de Cristo, pois não falamos de nossas realizações e propósitos. O que fazemos é dizer “Creio” e “Amém”. Recontamos e anunciamos profeticamente os feitos de Deus. É uma confissão pública de essência das fé cristã, não uma oração. É também uma expressão de louvor e agradecimento pela salvação que é recontada nessa confissão.
A fé cristã é expressada em três credos ecumênicos, isto é, várias denominações cristãs confessam a fé com as mesmas palavras: o Niceno, o Apostólico e o Atanasiano.
13.1. O Credo Niceno
O Credo Niceno é o mais antigo em sua forma completa. Surgiu em meio às discussões sobre a divindade de Cristo, no Concílio de Nicéia, em 325 A.D. Ocupou lugar nos cultos com Santa Ceia, quando incluído também o Credo Apostólico. O Credo Niceno usado em nossos dias não é o credo de Nicéia de 325 A. D., mas uma forma diferente e mais completa que foi apresentada em Calcedônia (451 A.D.) como tendo sido aprovado pelo Concílio de Constantinopla (381 A.D.).
13.2. O Credo Apostólico
O título “Credo Apostólico” deu-se devido à tradição errônea de atribuir aos apóstolos a criação de um credo. Este credo, na verdade, pertence em sua totalidade à época da antiga igreja não dividida. Este credo recebeu a sua redação final decisiva somente no Século VIII, na Gália. Era, a princípio, um confissão de fé de uma província ocidental, composta para o uso catequético e litúrgico. Devido à grande influência da liturgia anglicana sobre a igreja da Itália, após Carlos Magno, a Igreja de Roma, e toda a Igreja Ocidental começou a usar o Credo Apostólico ao lado do Credo Niceno. Esse lugar, ele o manteve até mesmo nas principais igrejas da Reforma.
Este credo, porém, tal como existe, jamais foi aceito universalmente por toda a igreja. Existe hoje uma variedade de opiniões a respeito do seu status. Por detrás da formulação do Credo Apostólico houve um processo de desenvolvimento que nos leva a concluir que ele é, na verdade, muito mais antigo do que acabamos de mencionar. A forma quase completa do Credo Apostólico já se encontra nas perguntas feitas aos batizados em Roma no início do Século III, como relata Hipólito, na Tradição Apostólica, 21:
“Crês em Deus Pai Todo-Poderoso?
Crês em Cristo Jesus, o filho de Deus, que nasceu pelo Espírito Santo da virgem Maria, foi crucificado sob Pôncio Pilatos e morreu e surgiu dos mortos novamente com vida no terceiro dia, e subiu aos céus e sentou-se à destra do Pai, e virá julgar os vivos e os mortos?
Crês no Espírito Santo, na Santa Igreja, e na ressurreição da carne?”
Quase o mesmo modelo em forma declamatória foi encontrado no Credo Romano, no final do Século IV. Esses credos (Apostólico, Niceno e Romano, representam as formas em que se ensinavam e afirmavam os pontos principais da fé).
Essas formas variam de lugar para lugar e de tempo para tempo. A partir do Concílio de Nicéia (325) o Oriente e o Ocidente uniformizaram ou aproximaram a forma dos credos, aceitando, principalmente, o Credo Niceno na liturgia da Santa Ceia. Embora o credo seja produto Ocidental, em linguagem e formulação, a fé nele afirmada é também a fé do Oriente.
13.3. O Credo Atanasiano
É a exposição mais extensa da fé cristã e é usado exclusivamente no Domingo da Santíssima Trindade, por ser a exposição mais detalhada das três pessoas divinas.
14. O Sermão
É considerado o clímax da primeira parte do culto, pois é a exposição clara e prática de um texto bíblico, especialmente o Evangelho, à vida das pessoas.
Com a introdução do Credo no culto, o sermão passou a ser um seguimento do Credo. Isto foi um caso particular na Alemanha; Durandus reconhece este costume no Século XIII.
A Reforma Luterana devolve ao sermão o devido lugar no culto, pois apontou muito para a negligência da pregação; o sermão tornou-se um marco da Reforma. Lutero em sua Missa latina sugere que o sermão seja colocado no princípio do culto, não havendo mudança na liturgia. Em sua Deutsche Messe ele preferiu colocar o sermão antes do Credo. O Sermão segue o Credo e o Credo segue o Evangelho.
O Sermão é a voz da vida da Igreja na instrução, testemunho e exortação. A liturgia em sua forma normal necessita do Sermão, o qual não deve ser meramente pessoal ou indiferente para com a liturgia. Como as demais partes do culto, ele deve viver o espírito do culto. A unidade litúrgica requer que o sermão seja conduzido em uma relação íntima com as lições litúrgicas, ou no mínimo no pensamento do dia ou período do ano eclesiástico.
O ciclo de perícopes do ano eclesiástico exercem importante papel relacionado com o sermão. O pregador não deveria preocupar-se em pregar apenas textos que sejam do seu agrado, ou sua especialidade, ou ainda, para qualquer ocasião festiva escolher texto especial. As séries de perícopes estão aí para ajudar nesta tarefa e para, no período de um ano, dar destaque a grandes temas da história e o plano de salvação.
O racionalismo, três séculos após a Reforma, exaltou a figura do pregador e o sermão a tal ponto, que fez deles o centro de todo o culto. Até mesmo a arquitetura das igrejas sofreu modificações, pois os púlpitos eram colocados degraus mais altos do que o altar. A igreja perdeu muito do senso de reverência, de ordem e beleza.
O Sermão combina elementos sacrificiais e sacramentais; ele é uma interpretação, aplicação e proclamação da Palavra. Também expressa a idéia de comunicação pessoal e testemunho para a experiência do povo de Deus, para que este aceite a sua Palavra como regra e norma de fé e vida.
Antes de subir no púlpito o ministro pode proferir uma oração silenciosa no altar, enquanto a congregação conclui o cântico. Embora a liturgia não prescreva, o pastor pode seguir o costume geral das igrejas luteranas e das saudações apostólicas: Ef 1.2, ou dizer “Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Amém.” Terminando o Sermão o ministro poderá proferir o voto: “A paz de Deus, que excede todo entendimento humano, guardará os vossos corações e vossas mentes em Cristo Jesus, para a vida eterna. Amém”, com as mãos levantadas. Antigamente era costume concluir a homilia com um ato de louvor. O voto, com o usamos hoje, é uma bênção (Fp 4.7), invocando a prometida bênção e paz sobre todo aquele que ouve a palavra de Deus e a guarda. O voto conclui adequadamente a Segunda parte do ofício da Palavra, e guia para dentro do Ofertório.
O Sermão sempre teve importância na Igreja Cristã, embora tenha sido desvalorizado na Idade Média. Sua restauração foi, sem duvida, um dos grandes elementos da Reforma Luterana.
No púlpito o pregador não expressa sua opinião ou o que o texto lhe diz pessoalmente. Com firmeza, zelo e lealdade ele proclama: “Assim diz o Senhor”.
15. Ofertório
15.1. “Cria em mim, ó Deus”
Com o Ofertório nós iniciamos a segunda parte do culto, a qual é resposta às leituras sacramentais e à pregação da Palavra. O ofertório não é oferecer dinheiro. É muito mais do que isto, é oferecer nossos corações a Deus em dedicação, é o oferecer de nossos dons para o sustento do trabalho e culto da Igreja Cristã.
Com a influência do Pietismo, Racionalismo e Calvinismo houve um abandono do uso semanal da Santa Ceia, e o ofertório foi trazido da segunda parte do culto para ser parte da conclusão.
O Ofertório na Igreja Primitiva se desenvolveu gradativamente. Nesta segunda parte não participavam os catecúmenos, mas somente os fiéis. Esses traziam numa mesa coisas que podiam ser doadas aos pobres, e junto também o pão e vinho. Neste ato de trazer donativos eram também cantados salmos que com o passar do tempo se tornaram “O Ofertório”. Na Igreja Primitiva o ofertório variava de acordo com a estação do Ano Eclesiástico. Hoje, três desses textos permanecem da Igreja Primitiva: Sl 51.17-19; 116.12-19; 51.10-12. Nós podemos notar nestes três textos uma mesma linha de pensamento onde a oferta é um dar-se a si mesmo a Deus.
O Ofertório é um momento onde nós nos entregamos a Deus de fato e de verdade. Dentro do culto da Igreja Primitiva o Ofertório era colocado antes da Santa Ceia. Se hoje temos o Ofertório antes do prefácio, isto nada mais é do que uma volta às origens da igreja.
15.2. Ofertas
Oferta é um costume que vem desde o Antigo Testamento. Na Igreja Primitiva, porém, o povo trazia alimentos e outras dádivas a uma mesa ao lado do altar. Estes eram, trazidos numa posição e solenemente dedicados numa oração de agradecimento. O pão e o vinho que eram trazidos, usavam-se para a administração da Santa Ceia, que seguia mais tarde. As outras dádivas eram reservadas aos clérigos, para o sustento da igreja e para os pobres.
A oferta é um ato de culto, louvor e gratidão, do nosso servir a Deus. E é bom lembrar que gratidão pode facilmente ser mal compreendida, e ser usada como uma exortação fácil: “Sejam agradecidos”, pode tornar-se uma exortação moralista. A gratidão também é uma graça de Deus e precisa ser buscada nele, pois não pode ser produzida em nós pelo próprio esforço. A gratidão não é um motivo; gratidão é a resposta, e como tal, ela se expressa através de atos específicos. A gratidão é um fruto, não uma raiz... o motivo é o amor de Deus pelo homem, não o amor do homem a Deus.
As ofertas não deveriam ser levantadas após o culto, como um adendo a ele. A oferta é parte integrante do culto e é levada ao altar, mostrando que é destinada ao serviço do reino de Deus.
A congregação oferece a Deus as dádivas internas e externas, como dedicação espiritual ao Senhor. As ofertas devem ser recebidas ou levadas por pessoas responsáveis por este ato.
Os diáconos podem deixar o altar antes da oração Geral. Eles devem retirar-se de maneira silenciosa e não em passo militar. A unidade das ofertas e a oração da igreja (oração geral) como um ato comum de adoração, é enfatizada se os diáconos permanecem voltados ao altar enquanto a oração está sendo feita. O ministro, após receber os pratos da oferta, voltando-se ao altar, poderá elevar estas ofertas antes de coloca-las sobre o altar.
15.3. Oração Geral
A Oração da Igreja (Oração Geral) é uma parte do ofertório num sentido mais amplo – as três partes, a Oferta de dádivas, as sentenças do Ofertório e a Oração da Igreja, devem ser vistas como um unidade. A Oração é a contraparte litúrgica da oferta de caridade e sacrifício. As dádivas e orações são a oferta dos que prestam culto, apresentadas juntamente com as intercessões de Cristo, “o Sumo-sacerdote de nossas oferendas”, como expressão de gratidão e louvor. Dr. Henry E. Jacobs (no livro The Lutheran Movement in England, p. 303) diz que “o ofício da oração geral é apresentar todas as nossas orações pelos homens e levá-los ao arrependimento e fé, para que experimentem a plenitude da bênção divina, temporal e eterna”.
Esta Oração inclui os elementos fundamentais e os universais em sua dimensão. É uma oração por toda sorte e condições do homem. Revela o verdadeiro propósito para a Igreja em todas as suas atuações, o Estado e o Governo, o lar e seu bem estar, enquanto ela relembra diante de Deus a todos os homens nas suas diversas vocações e necessidades. É um dos elementos notáveis na liturgia e, provavelmente, aquele que acima de todos os outros, ilustra o exercício ativo da congregação de suas funções como sacerdócio real. O culto principal não seria completo sem algumas destas formas sublimes, puras e aceitáveis de oração. A inspiração escriturística para isso é a admoestação de Paulo (1 Tm 2.1-2).
Ao fazer alusão, além das coisas pequenas, locais e particulares, também às questões mais amplas e universais, a Oração da Igreja revela o verdadeiro espírito da Igreja. Não há nela mera repetição de idéia do dia ou do sermão, nem apenas uma expressão de necessidades e desejos particulares. Ela é dirigida a Deus em humildade e confiança, e seu sincero propósito é que seja ouvida por Ele. Não há tentativa de agradar ou instruir a congregação nem de procurar outros objetivos impróprios.
A Oração da Igreja é uma grande intercessão (Litania do Diácono); nos ritos gregos e nos ofícios romanos e gálicos, era aí que iniciava a Missa dos Fiéis. A Reforma restaurou esta Oração Geral da Igreja para as liturgias luteranas e anglicanas, pois a mesma tinha sido degenerada numa série de comemorações em favor dos mortos e invocação de santos na Idade Média. Seguindo a posição de Lutero, em sua Deutsche Messe, de 1526, e redigindo precioso material devocional no vernáculo, as ordens da Igreja Luterana desenvolveram a Allgemeine Kirchengebet.
Com o passar do anos foram providenciados textos completamente novos e em linguagem simples e moderna, incluindo muitas das idéias antigas, mas que também expressam muitas idéias e necessidades de nosso tempo.
A resposta “Nós te imploramos que nos ouças, bom Senhor”, garante a atenção e participação da Congregação e alivia o tédio de uma forma rígida.
A Oração Geral da Igreja é um ato sacrificial e o ministro está voltado para o altar. Caso o altar esteja afastado da parede, a Oração poderá ser proferida por detrás dele. As rubrica gerais orientam que a Oração Geral será usada em dias festivos em sempre que houver celebração da Santa Ceia. Em outros tempos a litania ou uma forma seletiva de coletas e orações, ou qualquer outra oração adequada poderá ser proferida. A parte final dá a alternativa de inclusão de temas livres do momento. Contudo, orações livres (improvisadas) deveriam ser evitadas, para não incorrer no perigo das vãs repetições e erros doutrinários decorrentes da falta de reflexão. Há ocasiões que claramente exigem comemoração ou intercessão especial. Material preparado especialmente para tais ocasiões não deveria suplantar a Oração Geral em si, mas antes, tornar-se parte dela. Petições apropriadas, preparadas com antecedência, podem ser usadas, em lugar apropriado na Oração Geral.,
As rubricas instruem o ministro a fazer menção de petições especiais, intercessões e ações de graça, as quais podem ter sido solicitadas pelos fiéis, antes da Oração Geral, assim que a congregação possa tê-las em mente durante a oração.
Quando há comunhão, as rubricas requerem a omissão do Senhor neste lugar, a fim de evitar repetição. Avisos necessários após a Oração Geral podem ser dados assim que não destruam o espírito do culto, e deveria ser tão breves quanto possível.
16. Prefácio
O prefácio costuma iniciar com um hino (ofertório). Tem este a função de preparar os corações e as mentes das pessoas para as bênçãos espirituais que Deus nos quer oferecer. Ali somos convidados a elevar os nossos corações a Deus. É o momento no qual abrimos os nossos pequenos corações em júbilo ao grande Doador da Salvação. Essas frases curtas, mas significativas do prefácio são a única coisa que temos para oferecer a Deus, junto é claro, com nossos corações contritos e quebrantados.
Podemos notar no prefácio a forma plural: convosco, vossos, nosso; e isto é muito significativo porque dá um aspecto de comunidade aos crentes reunidos. E toda essa situação do prefácio cria um espírito que ecoa nos corações com as palavras “É verdadeiramente... louvando-te sempre dizendo”. Neste momento estamos face a face com nosso Senhor Jesus em gratidão e louvor.
Existem prefácios próprios que variam de acordo com o Ano Eclesiástico. Esses prefácios expressam o pensamento para cada ocasião, têm eles conteúdo histórico e doutrinário.
17. Sanctus
Palavra de origem latina, é o clímax e conclusão do prefácio. É um texto da canção na qual a igreja peregrina une sua voz ao cântico da igreja vitoriosa. Com as palavras “Santo, Santo, Santo...” nos associamos ao canto dos anjos (Is 6.2,3). É um ato solene de adoração e gratidão num espírito de reverência. É o mais antigo, mais celebrado e mais universal dos hinos cristãos. É o grande hino de louvor na comunhão. O texto litúrgico proclama a glória a Deus Pai no primeiro parágrafo e o louvor de Cristo como Deus, no segundo (Jo 12.41). O Hosana é uma referência à entrada triunfal de Jesus em Jerusalém (Mt 21.9 – Cf. Sl 118 e Ap 4.8). Hosana nas alturas significa “Salva agora, eu te suplico, Tu que estás nos céus”. No tríplice Santo há uma alusão à SS. Trindade. Aquele que vem em nome do Senhor é próprio Cristo, que vem a nós na Santa Ceia (presença real) e também virá para o juízo.
18. Pai Nosso
Oração que o próprio Cristo nos ensinou. Nela nos dirigimos ao Pai Celeste como seus filhos por Cristo. É a oração do discipulado. Não é a consagração dos elementos da Ceia, e sim dos participantes. É a oração distintiva dos filhos de Deus, que, conscientes de sua comunhão e união como irmãos, bem como parte da comunhão dos santos, querem achegar-se à mesa do Senhor. O lugar apropriado para esta oração é antes da distribuição. Nas liturgias gregas, a doxologia está incluída. Na Missa Romana, a resposta final da congregação é a sétima petição. É questionável se o ministro deveria orar o Pai Nosso sozinho, pois a oração está na primeira pessoa do plural. Na “Deutsche Messe” Lutero providenciou a parte musical para ser cantada pelo ministro, bem como para as “Verba” que seguem. Esta é a característica da Igreja Luterana em todo o mundo. Se cantado ou não, importante é que esta oração e as palavras da Instituição devem ser proferidas com a maior clareza, reverência e dignidade.
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