No Limiar do Fogo da Geena - parte 5
Os Maus Espíritos Segundo
o Novo Testamento - parte 2
e a Possessão
A Sagrada Escritura distingue tanto o endemoninhamento da possessão quanto das doenças psíquicas propriamente ditas (Mat. 4:24, 9:32; Marc. 1:34; Luc. 7:21, 8:2). Devido à grande complexidade da natureza humana torna-se difícil explicar o sentido do endemoninhamento. É evidente, porém, que ele se distingue da simples influência demoníaca que se resume na tentativa do espírito das trevas de inclinar a vontade do homem ao pecado. Neste caso conserva-se o poder sobre os atos e a tentação pode ser afastada pela prece. O endemoninhamento distingue-se, também da possessão, na qual o diabo apodera-se da razão e da vontade humana.
Aparentemente, no caso do endemoninhamento o mau espírito se apossa do sistema neuromotor do organismo - como se estivesse introduzido entre seu corpo e sua alma, de modo que o homem perderia o controle sobre seus movimentos e atos. É de se pensar porém, que no endemoninhamento o mau espírito não chega a possuir o pleno controle sobre as forças da alma do endemoninhado - elas somente ficam impedidas de se manifestar. A alma, até certo ponto continua a pensar e sentir independentemente, mas perde a capacidade de dirigir os órgãos do corpo. Se imaginarmos a alma como um pianista e o corpo como um piano, podemos comparar o mau espírito a um macaco malvado que se interpõe entre os dois e bate nas teclas do instrumento loucamente. Já que os endemoninhados não dominam o próprio corpo, eles são vítimas do espírito malvado que os escravizou e, portanto, não são responsáveis pelos seus atos - são escravos do mau espírito.
O endemoninhamento pode assumir diversas formas de manifestação. Às vezes os endemoninhados são furiosos e arrebentam tudo à sua volta, deixando os presentes apavorados. Nisto, eles exibem uma força descomunal, como no caso do endemoninhado de Gerasa que rompia todas as cadeias com as quais se tentava prendê-lo (Marc. 5:4). Nestas ocasiões, eles provocam ferimentos em si mesmos, como o rapaz endemoninhado que em tempo de lua nova jogava-se no fogo ou na água (Mat. 17:15). Não são raros porém, casos em que o endemoninhamento manifesta-se de uma forma mais branda e as aptidões são suspensas temporariamente. Assim, como exemplo, o Evangelho traz o caso do mudo que voltou a falar normalmente tão logo Senhor o livrou do demônio e da mulher encurvada que conseguiu endireitar-se após a sua libertação do diabo pelo Senhor - isto depois de permanecer encurvada durante dezessete anos (Luc. 13:11).
Em alguns casos os endemoninhados demonstram capacidade premonitiva e de clarividência. Assim, nos Atos dos santos Apóstolos menciona-se o caso de uma moça que predizia coisas, o que trazia lucro a seus donos, pois adivinhava o futuro aos interessados. Quando o Apóstolo Paulo expulsou o demônio ela perdeu esta habilidade (Atos 16:16-19). Com a propagação da Fé cristã, o endemoninhamento tendeu a desaparecer, porém ainda existe em nossos dias.
O que leva, então ao endemoninhamento e quem dá o direito ao mau espírito de apossar-se do ser humano e torturá-lo? Segundo a opinião do professor Kurt Koch, um alemão, pastor, que dedicou mais de quarenta anos a este assunto e é autor de uma série de destacados trabalhos neste gênero de pesquisa, - na totalidade dos casos que chegaram ao seu conhecimento, a causa do endemoninhamento residiu no interesse pelo ocultismo: ou a pessoa numa certa época de sua vida praticou-o, ou ela recorreu aos serviços de ocultistas, ou ainda alguém da sua família dedicou-se a esta prática. Sob ocultismo entendemos a invocação de espíritos, o espiritismo como tal, a cartomancia e a procura de serviços de cartomantes, a yoga, terapias alternativas por "extrassensos," magia "branca" e "negra"; de um modo geral qualquer atividade que tem por fim a obtenção de préstimos dos espíritos degradados. (mesmo sem dar-se conta disto). Deste modo, os que se dedicam a práticas de ocultismo expõem ao perigo não somente a si mesmos, como também os seus filhos e netos.
No nosso tempo, marcado pelo afastamento do cristianismo e do crescimento acentuado do interesse pelo ocultismo, cada vez mais aumenta o número dos que se sujeitam à dominação violenta pelos maus espíritos. Os psiquiatras sentem-se constrangidos em reconhecer a existência dos demônios e como regra, incluem as manifestações do endemoninhamento no rol das doenças de natureza psíquica. O homem que possui Fé deve porém, compreender que nem os remédios, nem os recursos psicoterapêuticos podem afastar os maus espíritos. Aqui faz-se necessária a força Divina.
Eis, os traços característicos do endemoninhamento que o distinguem das doenças psíquicas propriamente ditas. (Kurt E. Koch, - "Demonology Past and Present," Kregel Publ. Grand Rapids, Michigan, 1973, pgs. 31-52).
- Aversão à tudo o que é sagrado e relacionado a Deus: Santíssimo Sacramento da Eucaristia, a Cruz, a Bíblia, a água benta, as imagens sagradas, a prosforá (pães de oferenda), o incenso, a prece, etc... Nota-se, que os endemoninhados percebem a presença do objeto sagrado mesmo que este esteja fora do alcance da sua visão. Ele os irrita a ponto de adoecer e induzir à violência.
- Alteração da voz: Este sintoma não aparece nas doenças comuns do sistema nervoso. Desde que a fala é controlada pelo cérebro sobre o qual os demônios não exercem um controle total, porém tão somente sobre as cordas vocais, - as palavras pronunciadas pelas vítimas soam de modo não natural.
- Clarividência: Os demônios não sabem o futuro, pois nem os anjos estão a par dele: somente o Senhor Deus o conhece. Entretanto os demônios têm noção do passado e enxergam o presente em maior grau do que os simples humanos. Sendo espíritos, eles têm a possibilidade de quase instantaneamente comunicar a um clarividente algo que acontece em algum lugar distante, mesmo noutra parte do mundo, de modo que pode parecer que ele conhece o futuro. Quando um clarividente prediz o futuro trata-se de mera adivinhação. Os demônios, com sua maior experiência de vida, e com conhecimentos muito maiores do que os dos seres humanos, têm condições para prever aquilo que irá acontecer, às vezes acertadamente. É evidente, porém que eles freqüentemente erram. Além disso, as suas profecias cumprem-se não porque assim deveria acontecer de fato, mas porque o homem, numa auto sugestão, começa inconscientemente a aspirar o objeto da predição e com isso facilita a sua realização.
- Cura repentina: O psiquiatra pode precisar de alguns anos para curar o paciente. O livramento do demônio, porém, ocorre instantâneamente, e a partir deste todos os sinais do endemoninhamento desaparecem e o homem volta ao normal.
- Mudança repentina para outro lugar: Existe o perigo do mau espírito, que habitava o endemoninhado mudar-se repentinamente ou para os membros de sua família ou para a pessoa que tenta expulsá-lo. Isto é diferente do perigo de "contaminação" ao qual estão sujeitos os médicos e psiquiatras. É fato conhecido que as pessoas que lidam constantemente com doentes mentais, podem começar a exibir diversas anormalidades psíquicas. Esta "contaminação" do médico não alivia o doente. Já nos casos de troca de hospedeiro o endemoninhado livra-se por completo e a outra pessoa sucumbe à ação do espírito.
Apesar do Senhor Jesus Cristo ter dado a seus Apóstolos meios poderosos para a expulsão dos demônios, não é qualquer pessoa que deve tentá-lo. A Sagrada Escritura no Novo Testamento revela um fato impressionante com relação aos espíritos imundos, - que eles não podem resistir ao nome de Cristo: O Senhor Jesus Cristo tem sobre eles um poder absoluto e inelutável. Ainda no tempo da vida do Salvador na terra, os Apóstolos chamaram a atenção para o fato de que um homem expulsava os demônios pelo nome de Cristo. Perturbados, eles contaram isto a Cristo e pediram Sua permissão para proibir o desconhecido de usar Seu nome. Mas o Senhor respondeu: "Não lho proíbas, porque quem não é contra vós, é por vós" (Luc. 9:50). Provavelmente este desconhecido tinha fé sincera em Cristo, apesar de manter-se separado.
É perigoso para o homem comum entrar na luta contra os espíritos impuros, mesmo tendo como arma o nome de Cristo. O livro dos Atos narra sobre a grande impressão que causaram os milagres feitos pelos Apóstolos em nome de Cristo, particularmente as expulsões de demônios. E assim, os filhos de um sacerdote judeu de nome Sceva, eles mesmos não cristãos, mas praticando o exorcismo para lucrar com este, resolveram experimentar um novo procedimento, - o dos Apóstolos. Assim, eles começaram a invocar o nome de Cristo para expulsar o espírito mau de um endemoninhado. De repente, este falou: "Eu conheço Jesus e sei quem é Paulo, mas vós, quem sois?. E o homem possuído pelo mau espírito saltando sobre eles e apoderando-se de ambos, maltratou-os de tal maneira que, nus e feridos, fugiram daquela casa" (Atos 19:14-17).
Disto devemos deduzir que o nome de Cristo deve ser invocado com grande fé e veneração - para a salvação da pessoa e não visando fins práticos ou por vaidade. Nisto é extremamente importante ser protegido pela força de Cristo, que vem através do modo de vida Cristão. De um modo geral, é melhor deixar a expulsão dos demônios com as pessoas autorizadas para isto pela Igreja: sacerdotes, bispos, anciãos e guias de vida espiritual elevada. Neste âmbito, todo entusiasmo pessoal e atrevimento são extremamente perigosos. O diabo é um inimigo muito perigoso e astucioso. O homem, que por auto confiança entrar numa luta aberta, poderá pagar caro por sua imprudência.
A possessão difere do endemoninhamento, nela o diabo apodera-se da própria razão e volição do homem. No endemoninhamento o diabo escraviza o corpo humano, deixando a razão e a volição relativamente livres. Evidentemente o diabo não pode apoderar-se de ambas pela força. Ele consegue isto gradativamente, - na medida em que o homem com seu afastamento de Deus ou pela sua vida pecaminosa, sujeita-se à sua influência. O exemplo de possessão demoníaca temos em Judas, o traidor.
As palavras do Evangelho: "Ora satanás entrou em Judas"(Luc. 22:3) denotam não o endemoninhamento, mas a escravização da vontade do discípulo - traidor. No começo, Judas filiou-se aos Apóstolos movido pelo bom sentimento, sem nenhuma intenção de lucrar com isso. Logo, porém, seus sentimentos para com Cristo esmoreceram e ele desiludiu-se de sua própria missão. Para que seus esforços até aí, não tivessem sido em vão, ele começou à guisa de recompensa a usar às escondidas o dinheiro da caixa que abrigava as esmolas dadas pelos benfeitores e destinadas às necessidades dos Apóstolos e para ajuda aos pobres. Ele não percebeu, que gradativamente o diabo escurecia a sua mente e começava a dirigir as suas vontades. Enfim, na Última Ceia o diabo apoderou-se totalmente do infeliz, levando-o primeiro ao ato ignominioso da traição e depois ao suicídio.
Outro exemplo de possessão demoníaca temos nos dirigentes judaicos e nos escribas que hostilizavam Cristo. Tudo aquilo que Ele pronunciava - eles contestavam e rejeitavam; tudo o que Ele fazia de grandioso e nobre - eles reprochavam e ridicularizavam. Soberbos como eram, não perceberam que o diabo apoderou-se de suas mentes e das suas vontades - para obstar o caminho da salvação da humanidade. Por isso o Senhor disse-lhes: "Vós tendes por pai o demônio e quereis satisfazer os desejos do vosso pai" (João, 8:44). Entre os que lutam contra Deus, encontram-se muitos tipos semelhantes no decorrer da História da Igreja, - especialmente nos dias da revolução em nossa pátria sofredora, martirizada ao extremo.
As pessoas possuídas pelo diabo não são simples ignorantes em matéria de religião, nem pecadores comuns, não - eles são criaturas que fazem jús às palavras: "de quem o deus deste século cegou os entendimentos" (2 Cor. 4:4).
https://fatheralexander.org/booklets/portuguese/evil_spirits_p.htm#n5
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