Experiências Fora do Corpo (3) na Literatura Ocultista e a Visão Cristã


Fora do corpo


Conclusão sobre o Reino "Fora do Corpo"


       Tudo o que foi dito aqui sobre experiências "fora do corpo" é suficiente para colocar as experiências de "pós-morte" contemporâneas em sua perspectiva adequada. Deixe-nos resumir o que encontramos:


1. Essas são, pura e simplesmente, experiências "fora do corpo", algo bem conhecido, especialmente na literatura ocultista que tem ocorrido com crescente frequência nos últimos anos em pessoas comuns que não estão envolvidas no ocultismo. Essas experiências, no entanto, na verdade, não nos dizem quase nada do que acontece com a alma após a morte, exceto que você sobrevive e é consciente.

2. O reino em que a alma entra imediatamente quando sai do corpo e começa a perder contato com o que conhecemos como "realidade material" (seja após a morte ou em uma simples experiência "fora do corpo") não é nem o céu nem o inferno, mas um reino invisível próximo da terra, que é chamado de variadas formas  "plano pós-morte" ou "plano bardo" (livro tibetano dos mortos), o "mundo dos espíritos" (Swedenborg e no espiritismo), o "plano astral" (teosofia e a maior parte do ocultismo), "local II" (Monroe) - ou, na língua Ortodoxa, o mundo aéreo do sub-céu onde os espíritos caídos habitam e ativamente enganam os homens para sua danação. Este não é o "outro mundo" que espera o homem após a morte, mas apenas a parte invisível deste mundo que o homem deve passar para alcançar o verdadeiro "outro" mundo do céu ou do inferno. Para aqueles que realmente morreram e estão sendo conduzidos por anjos da vida terrena, este é o reino onde o Juízo Particular começa nos "telônios" aéreos, onde os espíritos do ar revelam sua natureza real e sua hostilidade para com a humanidade; para todos os outros, é um domínio de engano demoníaco nas mãos desses mesmos espíritos.


3. Os seres contatados neste reino são sempre (ou quase sempre) demônios, sejam eles invocados por mediunismo ou outras práticas ocultas, ou encontrados em experiências "fora do corpo". Não são anjos, pois estes habitam no céu e somente passam através deste reino como mensageiros de Deus. Não são as almas dos mortos, pois essas habitam no céu ou no inferno e só passam por esse reino imediatamente após a morte no caminho do julgamento por suas ações nesta vida. Mesmo os mais experientes nas experiências "fora do corpo" não podem permanecer nesse reino por muito tempo sem o risco de separação permanente do corpo (morte), e mesmo na literatura ocultista, raramente é descrito adeptos se encontrando.


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4. Não deve-se confiar nas experiências neste reino, e certamente não devem ser tomadas como verdadeiras por aquilo que aparentam ser. Mesmo aqueles com uma base sólida no ensinamento Cristão Ortodoxo podem ser facilmente enganado pelos espíritos caídos do ar em relação a qualquer visão que possam ter; mas aqueles que entram neste reino sem conhecimento disso e aceitam suas "revelações" com confiança não são mais do que vítimas lamentáveis dos espíritos caídos. Pode ser questionado: o que dizer das sensações de "paz" e "agradabilidade" que parecem ser quase universais no estado "fora do corpo"? E a visão da "luz" que tantos enxergam? São enganos também?


    Em certo sentido, talvez, essas experiências são "naturais" para a alma quando separada do corpo. Nossos corpos físicos neste mundo caído são corpos de dor, corrupção e morte. Quando separada deste corpo, a alma imediatamente se encontra em um estado mais "natural", mais próxima do estado que Deus intenciona para ela; pois o "corpo espiritual" ressuscitado no qual o homem habitará no Reino dos Céus tem mais em comum com a alma do que com o corpo que conhecemos na terra. Até mesmo o corpo com o qual Adão foi criado no início tinha uma natureza diferente do corpo após a queda de Adão, sendo mais refinado e não sujeito a dores ou sofrimentos. 


       Nesse sentido, a "paz" e a "agradabilidade" da experiência fora do corpo podem ser consideradas reais e não um engano. O engano entra em jogo, no entanto, no instante em que se começa a interpretar essas sensações "naturais" como algo "espiritual" - como se essa paz fosse a verdadeira paz de reconciliação com Deus, e essa "agradabilidade" como se fosse o verdadeiro deleite espiritual do céu. Assim, de fato, é como as pessoas podem interpretar suas experiências de "fora do corpo" e "pós-morte", devido a falta de verdadeira experiência e consciência espiritual. Que isto é um erro pode ser visto pelo fato de que mesmo os mais rudes incrédulos têm a mesma experiência de agradabilidade quando "morrem". Nós já vimos isso em um capítulo anterior no caso dos hindus, de um ateu e de um suicídio. Outro exemplo impressionante é o do romancista britânico agnóstico, Somerset Maugham, que, quando teve uma breve experiência de "morte", antes da morte real aos 80 anos de idade, experimentou primeiramente uma luz cada vez maior e "então a sensação mais intensa de libertação", como descreveu em suas próprias palavras (veja Allen Spreggett, The Case for Immortality, 1974, página 73). Esta experiência não foi nem um pouco espiritual; foi mais uma experiência "natural" em uma vida que terminou em descrença.


    Como uma experiência sensível ou "natural", portanto, parece que a morte é de fato agradável. Essa agradabilidade pode ser experimentada igualmente por alguém cuja consciência está limpa diante de Deus, e por alguém que não acredita profundamente em Deus ou na vida eterna e, portanto, não tem consciência de como ele pode ter desagradado a Deus durante a vida. Uma "morte ruim" é vivida, como um escritor disse bem, apenas por "aqueles que sabem que Deus existe e, no entanto, viveram suas vidas como se não Ele não existisse" - ou seja, aqueles cujas consciências os atormentam e que contrapõem sua dor com o "prazer" natural da morte física. A distinção entre crentes e incrédulos ocorre, assim, não no momento da própria morte, mas depois, no Juízo Particular. A "agradabilidade" da morte pode ser real o suficiente, mas não tem conexão necessária com o destino eterno da alma, que pode muito bem ser um destino de tormento.


     Isso ainda mais é verdadeiro em relação à visão de "luz". Esta também pode ser algo simplesmente natural - um reflexo do verdadeiro estado de luz para o qual o homem foi criado. Se assim for, é um grave erro dar o significado "espiritual" que o espiritualmente inexperiente invariavelmente dá. A literatura ascética Ortodoxa é cheia de advertências quanto a confiança em qualquer tipo de "luz" que possa aparecer; e quando alguém começa a interpretar tal luz como um "anjo" ou mesmo como "Cristo", fica claro que esse já caiu em engano, tecendo uma "realidade" a partir da própria imaginação, mesmo antes dos espíritos caídos começarem seu próprio trabalho de engano.


       Também é "natural" para a alma, separada do corpo, ter uma consciência aumentada da realidade e exercer o que agora é chamado de "percepção extra-sensorial" (PES). É um fato óbvio, observado tanto na literatura Ortodoxa como nas investigações científicas modernas, de que a alma logo após a "morte" (e até antes da morte) vê coisas que aqueles que estão ali presentes não vêem; sabe quando alguém está morrendo à distância, etc. Um reflexo disso pode ser observado na experiência que o Dr. Moody chama de "visão do conhecimento", quando a alma parece ter uma "iluminação" e ver "todo o conhecimento" diante dela (Reflection on Life after Life, p. 9-14). São Bonifácio descreve a experiência imediata pós-morte do "monge de Wenlock", assim: "Ele sentiu-se como um homem que via e estava bem acordado, cujos olhos tinham sido velados por uma cobertura densa e, de repente, o véu foi removido e tudo aquilo que antes era invisível, velado e desconhecido ficou claro. Assim, com ele, quando o véu da carne foi posto de lado, todo o universo pareceu reunir-se diante de seus olhos de modo que viu todas as partes da terra, todos os mares e povos "(Emerton, Letters of St. Boniface , p. 25).


       Algumas almas parecem ser naturalmente sensíveis a experiências semelhantes, mesmo quando ainda estão no corpo. São Gregório, o Grande, observa que "às vezes é através de um poder sutil próprio que as almas podem prever o futuro", em contraste àqueles que preveem o futuro pela revelação de Deus (Dialogues, IV, 27, p.219). Mas tais "psíquicos" invariavelmente caem em engano quando começam a interpretar ou desenvolver esse talento, que pode ser usado corretamente apenas por pessoas de grande santidade e (claro) de crença Ortodoxa. O "psíquico" americano Edgar Cayce é um bom exemplo do perigo da "PES": uma vez que descobriu que ele possuía um talento em dar diagnóstico médico preciso em um estado de transe, ele começou a confiar em todas as mensagens recebidas neste estado e acabou considerando-se um profeta do futuro (às vezes com erros espetaculares, como em relação a um cataclismo da costa oeste que não ocorreu em 1969), oferecendo leituras astrológicas e rastreando as "vidas passadas" dos homens em "Atlântida", no Antigo Egito e em outros lugares.


       As experiências "naturais" da alma quando é sensível (em especial) ou separada do corpo - sejam elas experiências de "paz" e agradabilidade, luz ou "PES" - são, portanto, apenas a "matéria-prima" da consciência aumentada da alma; tais experiências nos dão (devemos dizer novamente) poucas informações positivas sobre o estado da alma pós-morte, e muitas vezes conduzem a interpretações infundadas do "outro mundo", bem como ao contato direto com os espíritos caídos (cujo reino é este). Tais experiências são todas do mundo "astral" e não têm em si mesmas nada espiritual ou celestial; mesmo quando a experiência em si é real, as interpretações que lhe são dadas não são confiáveis.



5. Pela própria natureza das coisas, um conhecimento verdadeiro do reino aéreo dos espíritos e suas manifestações não pode ser adquirido apenas pela experiência. O ostentamento de todos os ramos do ocultismo de que seu conhecimento é certo porque se baseia na "experiência" é precisamente o defeito fatal de todo o "conhecimento" oculto. Em vez disso, as experiências deste reino, por ocorrerem no reino aéreo e por muitas vezes serem produzidas por demônios com a intenção de enganar e destruir as almas dos homens, são, por sua própria natureza, ligadas a delusão, além do fato de que o homem, não estando em casa neste reino, nunca pode se orientar completamente nele e ter certeza de sua realidade como pode ter do domínio material. A doutrina budista (expressa no livro tibetano dos mortos) é certamente correta quando fala da natureza ilusória das aparências do "plano bardo"; mas é incorreta quando conclui disto, com base apenas na experiência, que não há uma realidade objetiva por trás dessas aparências. A realidade deste reino invisível não pode ser conhecida por aquilo que realmente é, a menos que isso seja revelado por uma fonte superior e exterior a ela.


       A abordagem contemporânea deste reino por meio da experimentação pessoal e / ou "científica" está, pela mesma razão, sujeita a resultar em conclusões enganosas e ilusórias. Quase todos os pesquisadores contemporâneos aceitam ou, pelo menos, são bastante simpáticos ao ensinamento ocultista em relação a esse reino pela única razão de que este é baseado na experiência, que também é a base da ciência. Mas a "experiência" no mundo material é algo bastante diferente da "experiência" no reino aéreo. A matéria-prima que está sendo experimentada e estudada em um caso é moralmente "neutra", e pode ser estudada objetivamente e verificada por outros; mas, no outro caso, a "matéria-prima" é oculta, dificilmente compreensível e, em alguns casos, tem "vontade própria" - a vontade de enganar o observador. Por esse motivo, investigações sérias como essas do Dr. Moody, Dr. Crookall, Drs. Osis e Haraldsson, e da Dra. Kubler-Ross quase inevitavelmente acabam sendo usadas para espalhar idéias ocultas, que são as idéias "naturais" a serem extraídas de um estudo do reino oculto aéreo. Somente com a idéia (que se tornou rara hoje) de que existe uma verdade revelada que está acima de toda a experiência, esse reino oculto pode ser iluminado, sua verdadeira natureza reconhecida e ser feito um discernimento entre esse reino inferior e o reino superior do céu.

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       Foi necessário dedicar este longo capítulo às experiências "fora do corpo", a fim de definir com a maior precisão possível a natureza das experiências a que um grande número de pessoas comuns estão sendo submetidas, não apenas médiuns e ocultistas. (Na conclusão deste livro, tentaremos explicar por que essas experiências se tornaram tão comuns hoje). É bastante claro que essas experiências são reais e não podem ser descartadas como "alucinações". Mas é igualmente claro que essas experiências não são espirituais, e as tentativas - daqueles que se submeteram - de interpretá-las como "experiências espirituais" que revelam a verdadeira natureza da vida após a morte e o estado último da alma - apenas servem para aumentar a confusão espiritual da humanidade contemporânea e revelar quão distante encontra-se da compreensão do verdadeiro conhecimento e experiência espiritual.


       A fim de entender melhor, passamos agora a um exame de vários casos de experiências verdadeiras do outro mundo - o mundo eterno do céu que somente é aberto ao homem pela vontade de Deus, e que é bastante distinto do reino aéreo que estamos examinando aqui, que ainda faz parte deste mundo que terá um fim.


Fonte: http://skemmata.blogspot.com/2017/09/experiencias-fora-do-corpo-na_1.htmlconfuso."




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