Experiências Fora do Corpo (4) na Literatura Ocultista e a Visão Cristã
Uma nota sobre "reencarnação"
Entre as idéias ocultistas que agora estão sendo amplamente debatidas e às vezes aceitas por aqueles que têm experiências "fora do corpo" e "pós-morte", e até mesmo por alguns cientistas, é a idéia da reencarnação: a alma após a morte não passa pelo Juízo Particular e então habita no céu ou no inferno esperando a ressurreição do corpo e o Juízo Final, mas (evidentemente após uma permanência mais longa ou mais curta no "plano astral") volta à terra e ocupa um novo corpo, seja de um animal ou de outro homem.
Essa idéia era muito difundida na antiguidade pagã no ocidente, antes de ser substituída por idéias cristãs; mas a sua disseminação hoje se dá em grande parte devido à fluência do hinduísmo e do budismo, onde é comumente aceita. Hoje a idéia é geralmente "humanizada," na qual as pessoas assumem que eram homens em suas "vidas anteriores", ao passo que a idéia mais comum entre hindus e budistas e entre os antigos gregos e romanos é que era bastante raro conseguir "encarnar" como homem e que a maioria das "encarnações" de hoje aconteceriam em animais, insetos e até plantas.
Aqueles que acreditam nessa idéia dizem que ela explica todas as "injustiças" da vida terrena, bem como as fobias aparentemente inexplicáveis: se alguém nascer cego ou em condições de pobreza, isso é como uma recompensa justa devido as próprias ações desse alguém numa "vida anterior" (ou, como dizem os hindus e os budistas, devido ao "mau karma"); se tem medo da água, é porque tal pessoa se afogou em uma "existência anterior".
Os que acreditam na reencarnação não possuem uma filosofia muito profunda sobre a origem e o destino da alma, nem quaisquer provas convincentes para sustentar sua teoria; suas atrações principais são superficiais: aparentemente proporcionam "justiça" na terra, explicam alguns mistérios psíquicos e fornecem alguma aparência de "imortalidade" para aqueles que não aceitam isso por motivos cristãos.
Em uma reflexão mais profunda, no entanto, a teoria da reencarnação não oferece nenhuma explicação real das injustiças: se alguém sofre nesta vida por pecados e erros de uma vida que não pode lembrar, e pela qual (se caso "anteriormente" tenha sido um animal) nem sequer pode ser considerado responsável e se (de acordo com o ensinamento budista) não há nem mesmo um "eu" que sobrevive de uma "encarnação" para a próxima, e os erros passados foram literalmente de outra pessoa - então não há uma justiça reconhecível, mas apenas um sofrimento cego de males cuja origem não deve ser traçada. O ensinamento cristão da queda de Adão, que é a origem de todos os males do mundo, oferece uma explicação bem melhor das injustiças no mundo; e a revelação cristã da perfeita justiça de Deus em Seu julgamento dos homens para uma vida eterna no céu ou no inferno torna desnecessária e banal a idéia de alcançar a "justiça" através de "encarnações" sucessivas neste mundo.
Nas últimas décadas, a idéia de reencarnação alcançou uma notável popularidade no mundo ocidental, e houve numerosos casos que sugerem a "lembrança" de "vidas passadas"; muitas pessoas também retornam de experiências "fora do corpo" acreditando que essas experiências sugerem ou insinuam a idéia de reencarnação. O que devemos pensar nesses casos?
Muito poucos desses casos, deve-se salientar, oferece uma "prova" que é mais do que vagamente circunstancial, e poderia ser facilmente ser o produto da simples imaginação: uma criança nasce com uma marca no pescoço e, posteriormente, "lembra" que foi enforcada como um ladrão de cavalos em uma "vida anterior"; uma pessoa tem medo de altura, e depois "lembra" de que morreu caindo em sua vida "passada"; e assim por diante. A tendência humana natural de fantasiar torna tais casos inúteis como "prova" da reencarnação.
Em muitos casos, no entanto, tais "vidas anteriores" foram descobertas por uma técnica hipnótica conhecida como "hipnose regressiva", que em muitos casos mostrou resultados impressionantes de recordação de eventos há muito tempo esquecidos pela mente consciente, até mesmo da infância. O hipnotizador traz a pessoa "de volta" a infância, e depois pergunta: "E antes disso?" Muitas vezes, em tais casos, a pessoa "lembrará" de sua "morte" ou mesmo de uma vida inteira diferente; o que devemos pensar de tais memórias?
Os próprios hipnotizadores bem treinados admitirão as armadilhas da "hipnose regressiva". Dr. Arthur C. Hastings, um especialista da Califórnia em psicologia da comunicação, observa que "a coisa mais óbvia que acontece sob a hipnose é que a pessoa é extremamente aberta para qualquer sugestão sutil, inconsciente, não verbal, bem como verbais do hipnotizador e são extremamente obedientes. Se você sugerir que viram um OVNI, eles dirão que viram um OVNI". Um hipnotizador de Chicago, Dr. Larry Garret, que fez por volta de 500 regressões hipnóticas, observa que essas regressões são muitas vezes imprecisas mesmo quando são apenas uma questão de lembrar de um evento passado nesta vida: "Muitas vezes as pessoas fabricam coisas, devido a desejos, fantasias, sonhos, coisas do tipo... Qualquer um que faça hipnose e qualquer tipo de regressão sabe que muitas vezes as pessoas têm uma imaginação tão vívida que se sentarão lá e criarão todos os tipos de coisas apenas para agradar o hipnotizador" (The Edge of Reality, p. 91 -92).
Outro pesquisador sobre esta questão escreve: "Este método é repleto de perigos, cujo o principal é a tendência da mente inconsciente em direção à fantasia dramática. O que surge na hipnose pode ser, de fato, um sonho que diz respeito ao tipo de existência anterior que o sujeito gostaria ter vivido ou acreditado, corretamente ou incorretamente, que ele tivesse vivido... Um psicólogo instruiu uma série de sujeitos hipnotizados a se lembrarem de uma existência anterior, e eles fizeram, sem exceção. Alguns desses relatos estavam repletos de detalhes e pareciam convincentes... Entretanto, quando o psicólogo os re-hipnotizou, eles conseguiram, em trance, rastrear todos os elementos das existências anteriores para alguma fonte comum - uma pessoa que conheceram na infância, cenas de livros que leram ou filmes que haviam visto anos antes, e assim por diante".
Mas o que dizer sobre esses casos, divulgados amplamente, onde há "prova objetiva" da "vida anterior" - quando uma pessoa "lembra" detalhes de tempo e lugares que ela não poderia ter conhecido por si mesma e os quais podem ser verificado por documentos históricos?
Tais casos parecem muito convincentes para aqueles que já estão inclinados a acreditar na reencarnação; mas esse tipo de "prova" não é diferente da informação padrão fornecida pelos "espíritos" nas sessões (que também pode ser muito impressionante), e não há motivo para supor que a fonte seja diferente. Se os "espíritos" nas sessões são claramente demônios, então a informação sobre as "vidas anteriores" de alguém também pode ser fornecida por demônios. O objetivo em ambos os casos é o mesmo: confundir os homens com uma exibição deslumbrante do conhecimento aparentemente "sobrenatural" e, assim, enganá-los sobre a verdadeira natureza da vida após a morte e deixá-los espiritualmente despreparados para isso.
Mesmo os ocultistas que são favoráveis em geral à idéia de reencarnação admitem que a "prova" para a reencarnação pode ser interpretada de várias maneiras. Um popularizador americano de ideias ocultistas acredita que "a maioria dos casos de relatos que dão evidências de reencarnação poderiam ser casos de possessão". "Possessão", de acordo com tais ocultistas, ocorre quando uma pessoa "morta" toma posse de um corpo vivo e a personalidade e a identidade deste parece mudar, causando a impressão de que alguém está sendo dominado pelas características da "vida passada". Esses seres que "possuem" homens, claro, são demônios, não importa o quanto possam disfarçar como sendo as almas dos mortos. O recente famoso livro Twenty Cases Suggestive of Reincarnation do Dr. Ian Stevenson parece, de fato, ser uma coleção de casos de tais "possessões".
A Igreja cristã primitiva lutou contra a idéia de reencarnação, que entrou no mundo cristão através de ensinamentos orientais, como os dos maniqueus. O ensinamento falso de Orígenes da "pré-existência das almas" estava intimamente relacionado com esses ensinamentos, e no Quinto Concílio Ecumênico em Constantinopla em 553 foi firmemente condenado e seus seguidores anatematizados. Muitos Pais da Igreja escreveram contra ele, nomeadamente São Ambrósio de Milão no ocidente (Sobre a Crença na Ressurreição, Livro II), São Gregório de Nissa no oriente (Sobre a Alma e a Ressurreição) e outros.
Para cristão ortodoxo de hoje que é seduzido por essa idéia, ou que se pergunta sobre a suposta "prova", talvez seja suficiente refletir sobre três dogmas cristãos básicos que refutam conclusivamente a própria possibilidade de reencarnação.
1. A ressurreição do corpo. Cristo ressuscitou dentre os mortos no mesmo corpo no qual morreu a morte de todos os homens e tornou-se o primeiro de todos os homens, cujos corpos também serão ressuscitados no último dia e que serão reunidos com suas almas para viverem eternamente no céu ou inferno, de acordo com o juízo justo de Deus de suas vidas na terra. Este corpo ressuscitado, como o do próprio Cristo, será diferente de nossos corpos terrestres, porque será mais refinado e mais similar a natureza angélica, sem o qual não poderíamos habitar no Reino dos Céus, onde não há morte ou corrupção; mas ainda será o mesmo corpo, milagrosamente restaurado e criado por Deus para a vida eterna, como Ezequiel viu em sua visão dos "ossos secos" (Eze. 37: 1-14). No céu, os redimidos se reconhecerão mutuamente. O corpo é, portanto, uma parte inalienável de toda a pessoa que viverá para sempre, e a idéia de muitos corpos pertencentes à mesma pessoa nega a própria natureza do Reino dos Céus que Deus preparou para aqueles que o amam.
2. Nossa redenção por Jesus Cristo. Deus assumiu a carne e, por da Sua vida, sofrimento e a morte na Cruz redimiu-nos do domínio do pecado e da morte. Através de Sua Igreja, somos salvos e preparados para o Reino dos Céus, sem "penalidade" para pagar por nossas transgressões passadas. Mas de acordo com a idéia de reencarnação, se alguém é "salvo", é somente depois de muitas vidas lidando com as conseqüências de seus pecados. Isto é o legalismo frio e lúgubre das religiões pagãs que foi totalmente abolido pelo sacrifício de Cristo na Cruz; o ladrão ao seu lado recebeu a salvação em um instante por sua fé no Filho de Deus, o "mau karma" de suas más ações foi eliminado pela graça de Deus.
3. O Juízo. Está determinado que os homens morram uma só vez, e logo em seguida vem o juízo (Heb. 9:27). A vida humana é um período limitado único de provação, após o qual não há "segunda chance", mas apenas o julgamento de Deus (que é justo e misericordioso) do homem de acordo com o estado de sua alma quando esta vida chega ao fim.
Nestas três doutrinas, a revelação cristã é bastante precisa e definida, em contraste com as religiões pagãs que não acreditam na ressurreição ou na redenção, e são vagas quanto ao julgamento e à vida futura. A única resposta a todas as supostas experiências ou lembranças de "vidas anteriores" é precisamente o ensinamento claro do cristianismo sobre a natureza da vida humana e o relacionamento de Deus com os homens.
Pe. Serafim Rose em seu livro The Soul After Death
Fonte: https://skemmata.blogspot.com/2017/09/experiencias-fora-do-corpo-na_1.html
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