Qual a Nossa Parte - Ascese
Ascese
Ascese significa “exercício,” “combate.” Para os cristãos, trata-se do combate que deverá ser travado para fazer brilhar de novo em nós a imagem de Deus embaraçada pelo pecado.
Nos aspiramos, no mais profundo de nós mesmos, reencontrar tal luz, sem ter sempre consciência disso.
No plano humano:
Todos sabem que não se pode atingir um bom nível no esporte, na música, em uma atividade por exemplo, sem se sujeitar à uma preparação por vezes dura e fatigante. Nós nos submetemos voluntariamente aos exercícios necessários uma vez que desejamos atingir um certo resultado. Pois isto é a ascese.
Como o homem é composto de uma alma e de um corpo, os dois devem participar juntos do combate para a nossa salvação. Assim os meios — as armas, pode-se dizer -que serão utilizados porão em atividade tanto a alma como o corpo. Quais serão essas armas; A oração, o arrependimento, o jejum, a esmola; em resumo, a busca da humildade e a observância dos mandamentos da Igreja e seus sacramentos. E nossos inimigos; São o que se chama “as paixões,” ou seja, tudo o que nos divide, nos afasta de Deus e dos outros, como a falta de amor, a cobiça, a inveja, o ciúme, o orgulho, a preguiça, o desânimo.
No Plano Divino:
Este combate enfrentado pelo homem, esta ascese, constitui de qualquer forma nossa participação na obra salvífica de Deus. Devemos certamente utilizar as “armas” mencionadas acima, mas sem jamais esquecer que essas armas — a oração, a penitência — são dons de Deus e que sem a graça divina não somos capazes de nada. As ações humanas “se não são feitas em nome do Cristo, mesmo sendo boas, não poderão ainda assim proporcionar a recompensa pela vida do século a vir” (V. Lossky, Teologia mística da Igreja do Oriente, Paris, Aubier, 1944, p. 194). Todos os ofícios da Quaresma, entre outros, nos lembram com insistência que as ações ascéticas podem ser estéreis e mesmo nefastas, se não são o resultado de nossa vontade individual, de nosso conformismo. Lembremo-nos do fariseu (Luc. 18:9-14).
“A alma deve perceber a que ponto, só ela está sem forças. Não esperando nada de você, proste-se diante de Deus, reconheça dentro de seu coração que você não é nada. Assim a graça toda poderosa criará todas as outras desse nada (…) Assim, esperando tudo de Deus e nada de você, nos devemos entretanto nos obrigar a agir, a fim de criar em nós alguma coisa à qual Deus possa vir em socorro e que a força divina possa finalmente penetrar.
(Higumeno Charitons, L’Art de Ia Priére, Abadia de Bellefontaine, Bégrolles-en-Mauges, coleçao “Spiritualité Orientale,” nº 18, 1976, p. 186).
Assim não esqueçamos que a graça “é a alma do combate e que a verdadeira vida cristã é a vida da graça” (Id., p. 187).
A meta verdadeira da ascese, no fim das contas, não é outra que nos liberar do peso, esta “graxa espiritual,” esta “densidade que o mal faz contrair a inteligência” (Evagro o Pôntico, citado por O. Clement em Sources, Paris, Stock, 1982, p. 118) e nos abrir para a graça de
Deus.
A ascese não é pois alguma coisa reservada aos monges, não é tão pouco um conjunto de exercícios inacessíveis, estranhos e desagradáveis, como a palavra pode fazer crer. A verdadeira ascese constitui um vigoroso combate cotidiano contra o mal, ou antes contra o maligno, que nos destrói. Sem combate e sem a ajuda de Deus, não há vitória.
Vocabulário Teológico Ortodoxo
FRATERNIDADE DOS IRMÃOS EM CRISTO
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