DITOS DE SANTO ANTÃO - do livro PEQUENA FILOCALIA - 2
Seleção e organização dos textos:
Fr. José Luís de Almeida Monteiro, OR, Diretor da Biblioteca do Saulchoir (Paris)
Higumene Arsenij Sokolov, Pároco da Igreja Ortodoxa Russa (Lisboa)
Departamento Editorial Paulinas
Tradução do original grego: António José Dimas de Almeida
... continuação:
11. Àqueles que são dotados da capacidade de cativar as naturezas incultas, ao ponto de as levar a amar a instrução e a cultura - a esses devemos chamar criadores de homens. Analogamente, o mesmo devemos dizer daqueles que encaminham os errantes, inspirando-lhes uma conduta virtuosa agradável a Deus, pois também esses são criadores de homens. Com efeito, a doçura e o autodomínio são, nas almas, manifestações de felicidade e esperança ..
12. É preciso que os homens pautem, sem tergiversar, o seu comportamento e conduta segundo os ditames de uma sã disciplina. Uma vez esse caminho encontrado torna-se fácil conhecer as coisas de Deus. De facto, quando um homem venera a Deus com todo o seu coração e toda a sua fé, recebe da providência divina o poder de dominar a cólera e a cobiça. Ora, tanto uma como a outra são a fonte de todos os males.
13. Homem verdadeiro é aquele que é dotado de razão e aceita ser corrigido. Aquele que não se corrige é inumano, pelo que a inumanidade é o seu timbre. A esses é preciso evitá-los: é, com efeito, impossível àqueles que coabitam com o mal serem alguma vez contados entre os imortais.
14. Se a razão está, na verdade, operante em nós, ela torna-nos dignos de sermos chamados homens. Caso contrário, o que nos distingue dos animais destituídos de razão não vai além da nossa forma física ou da nossa capacidade de falarmos do modo que falamos. Que o homem inteligente compreenda, pois, que é imortal. Com efeito, compreendendo-se a si mesmo como um ser dotado de imortalidade odiará toda a forma de cobiça, causa de morte.
15. Cada artesão, ao utilizar a matéria com que trabalha, revela a sua técnica. Um trabalha a madeira, outro o bronze, outro a prata, um outro o ouro. Assim também nós - auditores de discursos sobre a conduta feliz e virtuosa, agradável a Deus - devemos mostrar que somos, sem equívoco, homens dotados de razão, e que o somos pela nossa alma e não apenas pela configuração do corpo. A alma, verdadeiramente dotada de razão e amada por Deus, conhece todas as coisas da vida, de um modo direto e imediato. Ela ora a Deus com todo o amor, dá-lhe graças, faz incidir sobre Ele todo o seu desejo e todos os seus pensamentos.
16. Tal como os pilotos se deixam guiar por balizas para dirigir o navio sem o lançar contra um recife ou uma só rocha, assim também aqueles que aspiram à vida virtuosa devem examinar diligentemente o que se lhes impõe fazer, fugindo dos escolhos indesejáveis. Não devem perder de vista que o seu bem está na observância das verdadeiras leis (as leis divinas), razão pela qual lhes é necessário cortar pela raiz os maus pensamentos que assolam a alma.
17. Do mesmo modo que os pilotos e os quadrigários atingem uma alta proficiência à custa do treino e da disciplina, assim tmabém aqueles que procuram uma vida de santidade devem diligentemente estudar e praticar o que está em consonância com a vontade de Deus. Com efeito, aquele que a isso aspira e está persuadido de que tal é possível pode, animado por uma tal convicção, atingir a incorruptibilidade.
18. Considera que são livres não aqueles a quem a sorte fez livres, mas aqueles que verdadeiramente o são pela sua vida, isto é, pela forma como a vivem. É, com efeito, descabido chamar verdadeiramente livres aos príncipes que vivem na maldade e devassidão: eles são escravos das paixões mundanas. A liberdade e felicidade da alma consistem numa genuína pureza e no desapego das coisas transitórias.
19. Não te esqueças de que te é sempre necessário dar provas e ser um exemplo mediante a tua vida moral e as tuas ações. Com efeito, não é pelas suas palavras mas pelos seus atos que os doentes reconhecem os bons médicos e veem neles benfeitores e salvadores.
20. As características de uma alma dotada de razão e marcada pela virtude manifestam-se no olhar, no andar, na voz, no riso, no modo como ocupa o seu tempo, nas companhias que mantém. Porque tudo nela, ao transformar-se, reflete a sua beleza interior. Porque a mente, amada por Deus, guardiã das portas, vigilante e sóbria, barra a entrada aos maus e infames pensamentos.
21. Examina-te, testa o teu carácter, guarda sempre na tua mente a ideia de que as autoridades humanas têm poder unicamente sobre o corpo e não sobre a alma. Por isso, se te ordenam que cometas um homicídio, uma injustiça, um ato de corrupção, ou uma qualquer outra loucura, não lhes obedeças, mesmo se torturarem o teu corpo. Com efeito, Deus criou a alma livre e dotou-a do poder de escolher entre o bem e o mal.
Continua...
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