O Culto Luterano Explicado - parte 3 e final
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19. Verba ou Palavras da Instituição da Santa Ceia
Como registro da instituição original da Santa Ceia por Jesus Cristo, estas palavras, separadas ou dentro do contexto da oração eucarística, dão validade objetiva para a subseqüente administração, e separam os elementos visíveis para o seu uso sagrado. Estas palavras são encontradas em todas as liturgias, mesmo que não seja na mesma forma. O texto é uma harmonia dos quatro relatos do Novo Testamento (Mt 26, Mc. 14, Lc 22 e 1 Co 11). Muitas liturgias mais antigas omitem as palavras “...fazei isto... em memória minha”. Lutero, na sua Formula Missae (1523), omitiu vários adornos medievais, e acrescentou a frase “que é dado por vós” após as palavras “isto é o meu corpo; isto é o meu sangue”.
O uso delas para a Santa Ceia é mais do que mera recitação do evento histórico ou citação de autoridade para empenhar-se neste procedimento sagrado. É um ato de oração solene e corporativa, uma celebração litúrgica exaltada, na qual a congregação celebrante apreende e mantém erguidas as promessas divinas, evoca a ordem divina e invoca a bênção divina. As palavras da instituição são dirigidas a Deus. São a garantia para a fé nutrida pelo sacramento; pedem e recebem da parte de nosso Senhor Jesus (Ressuscitado) a graça pela qual o pão e vinho são, para aqueles que os recebem, seu corpo e sangue. A atual consagração deve ser encontrada na instituição original do nosso Senhor. A recepção dos elementos visíveis, que está implícita na ordem “fazei isto”, completa a administração. A consagração não consiste meramente, na repetição daquelas palavras “isto é o meu corpo”, mas nisso nós fazemos o que Cristo fez, isto é, que nós pegamos, abençoamos, distribuímos e comemos o pão de acordo com a instituição e as ordens de Cristo.
Quanto à posição do que consagra os elementos da Santa Ceia: se não puder ficar de frente para a congregação, deveria ao menos ficar de lado, não de costas. As palavras da instituição da Santa Ceia serão lidas ou cantadas em tom claro, vivo, dinâmico, em humildade de coração (aqui nestes quatro reside a solenidade). Para maiores detalhes sobre como proceder, veja algo sobre rubricas do culto cristão.
20. Pax Domini
Esta pequena bênção, infelizmente omitida em muitas celebrações, remonta também à igreja antiga. Lutero apreciava muito, chegando a escrever na Formula Missae (1523): A Pax é a voz do evangelho, anunciando o perdão dos pecados. Ainda segundo Lutero, esta era a única e mais valiosa preparação para a mesa do Senhor. Algumas igrejas o cantam, outras o dizem. Alguns o colocam antes do Agnus Dei; outros, depois. Outros há ainda, que o colocam após a distribuição. Nos primórdios da Igreja Romana, incluía-se no Pax o ósculo Santo (Rm 16.16 e outros). Diversas também têm sido as respostas da comunidade; porém o mais usado é : “E com o teu espírito”.
21. O agnus Dei
Este maravilhoso hino de comunhão foi introduzido na liturgia pelo Papa Sergius I, cerca de 700 A.D. A fonte bíblica do Agnus é Jo 1.39, que nos faz lembrar a mensagem profética em Is 53. Encontramos mais de 30 referências de Cristo como Cordeio no Apocalipse de João. Algumas igrejas o omitem. Na concepção luterana, o Agnus está diretamente ligado à distribuição e possui uma interpretação fortemente sacramental. Não é tanto uma repetição da confissão de pecados. O texto contém a confissão tríplice da atuação vicária de Cristo, em cumprimento à profecia – Is 53: 7,12; 1 Pe 1: 19,20, e é uma oração pela misericórdia e paz. Estes são os dons que Cristo nos dá na Ceia.
22. A distribuição da Santa Ceia
Durante a distribuição pode-se cantar um ou mais hinos. Hinos de Santa Ceia ou de louvor, de preferência.
Em alguns lugares os comungantes recebem a ceia ajoelhados. Este é um costume introduzido no século doze, e devota reverência e humildade. A fórmula da distribuição na igreja primitiva era simplesmente: “o corpo de Cristo”, e “o sangue de Cristo”, e cada um dos comungantes respondiam amém. No tempo de Gregório, o grande, essa fórmula expandiu-se na oração “o corpo de Cristo preserve a tua alma”.
Lutero na sua Formula Missae (1523) preservou esta fórmula e não deu nenhuma fórmula em sua Missa Alemã (1526), e não há qualquer fórmula em Duke Henry (1539), Witenberg (1533) e Mecklenburg (1552), Bugenhagen rejeitou todas as fórmulas dizendo: “Quando alguém dá o sacramento, não diga nada aos comungantes, porque as ordens de Cristo já foram ditas aos ouvintes e não podemos melhorá-las em cima dos comungantes”. Schelswig Hostein (1546). Lübek, uma das cidades de Bugenhagen, contudo introduziu a fórmula em 1647, e muitas da ordens do século XVI, e praticamente todas da agenda posterior preservam fórmulas de distribuição.
A fórmula na liturgia comum é um retorno à forma simples da Igreja Primitiva, a qual também está na liturgia da Igreja da Suécia e na Igreja Augustana. Sua brevidade permite aplicação individual. Ela deveria ser usada com precisão. “Dado por ti”, este é um acréscimo feito por Lutero.
As palavras deveriam ser ditas distinta e solenemente, embora num tom calmo, como uma garantia do valor significativo para cada indivíduo. O comungante pode tranqüilamente responder com um “amém” e/ou fazer o sinal da cruz.
Nos primeiros séculos o ministro colocava o pão na mão do comungante. Tertuliano (Séc. II) e Sirilo de Jerusalém (Séc. IV) dão testemunho deste fato. O último descreve que os comungantes faziam da mão esquerda um trono para a direita, encavando a palma da mão para receber corpo de Cristo. A prática medieval exigia que o Sacerdote colocasse a hóstia diretamente sobre a língua do comungante, para prevenir que a mesma não se quebrasse e também temia-se que alguém pudesse levá-la para casa, a fim de usá-la para fins de magia ou superstição.
Quanto ao cálice individual, este é uma inovação ainda recente e não difundido entre nós. O inovador foi um pastor americano, o qual também era médico. Isto aconteceu numa igreja rural em Ohio, por volta de 1893.
Com poder-se-ia tornar a participação do pastor possível? – Um diácono, devidamente instruído e consagrado, ou o presidente da congregação poderiam fazê-lo. Na “Pastorale” de C.F.W. Walther (p. 197-200) bem como nos “Artigos de Esmalcalde” (2ª Parte, Segundo Artigo, Seção 8) menciona-se inclusive a possibilidade de, em casos muito especiais, a auto-comunhão.
Algumas praxes quanto à distribuição poderiam ser mencionadas. Quanto a hóstia, muitos ainda mantêm a prática de levá-la diretamente a boca do comungante; outros preferem colocá-la sobre a palma da mão, e o próprio comungante a leva à boca. Não há qualquer restrição quanto ao mastigar a hóstia. Não está dito em lugar algum que isto não possa ser feito. Quanto ao vinho, não há indicação sobre a sua cor, apenas que seja “Do fruto da Videira”, e quanto ao cálice, não há restrições quanto ao uso do cálice individual; quanto ao uso do cálice comum, o pastor deveria tomar o cuidado para sempre limpar as bordas do mesmo com um guardanapo; o comungante pode ajudar, para evitar possíveis acidentes.
Há costumes diferentes quanto à postura diante do altar. Há quem prefira a fila indiana (podendo simbolizar a igreja que está em peregrinação); há os que preferem permanecer de joelho (simbolizando humildade e devoção); outros preferem permanecer em pé diante do altar (idéia de comunhão); e outros ainda, preferem colocar-se ao redor do altar (comunhão, mesa do Senhor). O importante é que os elementos e a ordem de Cristo (instituição) não sejam alterados, e que tudo seja feito com a mais profunda devoção e respeito, é claro, não desconsiderando o aspecto de “festa espiritual”.
https://se.olx.com.br/sergipe/livros-e-revistas/livros-e-revistas-novos-e-usados-1270882552?
23. Nunc Dimitis
É o cântico de Simeão (Lc 2.29-32) e significa “Agora despedes”. É um cântico que provavelmente pertence a “Complino”, de cujo emprego ele entrou nas Vésperas Luteranas, ele é encontrado na Igreja Grega ao final da liturgia, mas não é usado nos ofícios da Sagrada Comunhão Romana ou Anglicana, contudo, é indicado neste lugar na antiga liturgia Espanhola. As ordens de Lutero para a Santa Ceia não mencionam o Nunc Dimitis, mas ele é usado na Liturgia Sueca (1531) e em algumas liturgias germânicas do Séc. XVI.
O Nunc Dimitis forma uma conclusão apropriada e bela para o culto, relacionando o mistério da Sagrada Comunhão ao da encarnação. Ele expressa plenitude de realização e satisfação espiritual na apropriação pessoal das promessas de Deus e na parte final da liturgia, ele nos relembra a conclusão da primeira Ceia: “E tendo cantado um hino, foram ao Monte das Oliveira”.
24. Ação de Graças
A convocação para a Ação de Graças da congregação vem do versículo que introduz a coleta de ação de graças. Pensou-se por muito tempo que esta coleta fosse inteiramente original de Lutero, mas forma descobertos textos mais antigos, os quais contêm expressões semelhantes. Mas em sua forma final, a coleta é definitivamente de Lutero, que expressa a sua ênfase e espírito.
Pensamentos essenciais são apresentados na forma mais breve, mas com fervor. O primeiro é o da ação de graças. O próximo é uma ênfase sobre o fato de que o sacramento é dom de Deus para o homem, e não uma oferta do homem a Deus. O sacramento é reconhecido como um meio da graça e nós oramos, dando graças, é a única resposta possível, é tudo o que se pode fazer depois de ter recebido tão grande dom da salvação.
25. A Bênção
Esta bênção é proferida em nome de Deus, dando a certeza de sua graça e paz àqueles que o invocam em espírito e verdade. A ordem de Deus para Moisés (Nm 6.22-27) e a ação de Jesus ao despedir-se de seus discípulos no Monte das Oliveiras (Lc 24.50) fortemente sustenta esta convicção. Arão e seus filhos deveriam fazer uso destas palavras para abençoar os filhos de Israel: “Eles colocarão o meu nome sobre os filhos de Israel, e eu os abençoarei”. Assim que a missão terrena de Jesus estava concluída e sua presença visível estava chegando ao fim, ele guiou os seus discípulos até Betânia, levantou as suas mãos e os abençoou (Lc 24.50). No Santo Sacramento, sua presença é uma realidade para nós, e ele agora nos dá a sua bênção através da palavra de seu servo quando nossa adoração finda.
Lutero, evidentemente desejava uma forma mais forte e positiva do que a breve locução como qual termina a Missa Romana. Na sua Missa Latina de 1523, ele sugere o uso das palavras de Números ou de uma passagem dos Salmos, dizendo simplesmente: “Eu creio que Cristo usou algo dessa espécie quando abençoou os seus discípulos pouco antes de subir aos céus”. Ele definitivamente incorporou a Bênção Araônica em sua Deutsche Messe (1526).
A liturgia Sueca imediatamente seguiu a iniciativa, porém acrescentou à Bênção Araônica a expressão “Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo”. Assim, a forma do Antigo Testamento é solenemente concluída com a fórmula trinitária. A Bênção em caráter sacramental e, normalmente seguida do sinal da Cruz. Schoeberlein comentou que as mãos levantadas transmitem a idéia da bênção, e que o sinal da cruz dá um caráter específico cristão para o uso do texto do Antigo Testamento.
Na igreja primitiva, a bênção era simplesmente: “Ide em paz”. Não devemos esquecer das seguintes passagens: Sl 121.8: “O Senhor guardará a tua saída e a tua entrada, desde agora e para sempre”; Gn 32. 22-27: “...Não te deixarei ir se não me abençoares... e o abençoou ali”.
Fim do Culto?
Certamente que não. É apenas o início. Há toda uma semana pela frente. Admoestados, fortalecidos e consolados pela Palavra de Deus e pelo Sacramento, voltamos às nossas atividades diárias. Ali vivemos a nossa fé, na forma de serviço a Deus e ao nosso próximo. E para viver essa fé na vida diária, pedimos a bênção de Deus. Pedimos: Oh Deus, esteja conosco!
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