A Doutrina dos 8 Vícios (4) - EVÁGRIO PÔNTICO
VII. O DEMÔNIO DA VAIDADE
O pensamento da vaidade é um pensamento muito sutil, que com facilidade infiltra-se entre os virtuosos. Inspira-lhes o desejo de publicar suas lutas e de irem atrás da glória dos homens. Fá-los fantasiar que estão expulsando furiosos demônios, curando as mulheres, que multidões procuram tocar-lhes os mantos. Prediz-lhes que hão de tornarem-se sacerdotes, e já fazem o povo vir bater à sua porta em busca de conselho. E se por acaso eles não quiserem, hão de ser levados à força. E fá-los criar esperanças vãs, e entrega-os às tentações pelo demônio do orgulho ou da tristeza, que lhes inspira pensamentos contrários às suas esperanças. Às vezes entrega-os também ao demônio da luxúria, eles que pouco antes ainda apareciam como um santo e como um sacerdote digno de veneração (P13).
A vaidade não se encontra no mesmo plano dos outros vícios. Ela é por Cassiano atribuída à parte racional da alma. A vaidade surge quando os outros vícios parecem já ter sido ‘superados’. Mas ela neutraliza o esforço para vencer os vícios. E o demônio da vaidade é particularmente esperto, ele sempre se infiltra quando os outros demônios já parecem haver sido vencidos. Evágrio compara a vaidade com uma bolsa de dinheiro furada. A gente coloca nela o salário de seus combates. Mas ela não guarda coisa nenhuma. Sendo assim a vaidade neutraliza todos os esforços para alcançar a vitória. Faz com que o monge lute por uma motivação errada, não para se abrir a Deus mas sim para agradar aos homens. Mas com isto ele passa a orientar-se pelo exterior e perde a sinceridade de olhar para si próprio.
Mais de uma pessoa identificada com elevados ideais tem sucumbido à tentação da vaidade. Como o ideal conta com o apreço dos homens, através do esforço por alcançá-lo, ele se compromete a aumentar o sentimento de seu próprio valor. Na vaidade o que ocupa o primeiro plano é, em última análise, o próprio eu. Trata-se de glorificar o eu, e não de entregar-se a Deus.
VIII. O DEMÔNIO DO ORGULHO
O demônio do orgulho leva a alma a uma profundíssima queda. Convence-a a não reconhecer a ajuda de Deus, mas a acreditar que a causa de suas boas ações vem por ela mesma, e a olhar os irmãos de cima para baixo, como pessoas ignorantes e sem compreensão. Depois do orgulho vem a ira e a tristeza, e mais tarde, como último mal, a confusão do espírito, a loucura, e visões de uma legião de demônios nos ares (P14).
O orgulho não é apenas o último, mas também o mais perigoso dos vícios. O orgulhoso considera-se a si mesmo como Deus, e em última análise ele renega sua condição de homem. Isto o retira da realidade para um mundo de aparências em que ele incha-se cada vez mais, terminando na confusão do espírito. O orgulho é aquilo que C.G. Jung chama de inflação. A pessoa incha-se com o que contém seu inconsciente, e com isto ela perde cada vez mais o sentido da realidade. Por último passa a considerar-se como um grande reformador, um profeta ou um santo. Nega suas próprias sombras e sem perceber é arrastada pelo inconsciente. Segundo Jung, isto leva à perda do equilíbrio da alma, à dissolução da personalidade. Por conseguinte, é adequado falar-se do demônio quando nos referimos aos perigos do orgulho. Pois o orgulhoso, ao identificar-se com o arquétipo do inconsciente, entrega-se inteiramente ao seu poder, torna-se verdadeiramente um possesso. Por isso, precisamente no jiu contexto do orgulho, os monges falam de confusão do espírito, ou mesmo de perda do espírito.
Os oito vícios e os demônios relacionados com eles ameaçam cada vez mais o homem. Enquanto os três impulsos básicos são relativamente fáceis de controlar, com os três estados de ânimo a luta é muito mais difícil. Do homem adulto espera-se que ele domine os três impulsos básicos de maneira a não prejudicarem sua personalidade como um todo. É claro que também existe aqui um mais e um menos. Como os instintos possuem uma função positiva, também não se trata de eliminá-los mas apenas de os ordenar e de os integrar. Mas quando passamos a ocupar-nos com os três estados de ânimo, trata-se de integrar as próprias sombras. Primeiramente torna-se necessário que admitamos as necessidades e os desejos, para que não tomem posse da alma como emoções negativas e escapem a todo e qualquer controle. Depois, precisamente na luta contra a tristeza e a falta de disposição, é do inconsciente que se trata, sobretudo, da integração da anima, da parte feminina da alma, que no sexo masculino, quando reprimida, se manifesta como mau humor. Esta luta, tanto segundo Jung como também segundo Evágrio, realiza-se na fase da meia-idade, e se demonstra como essencialmente mais difícil do que o domínio dos instintos. Na luta contra a vaidade e o orgulho trata-se da sinceridade para consigo mesmo e da relação com Deus. Na terminologia de Jung trata-se de saber se o Eu irá dar lugar ao Selbst, se o eu tentará assumir os conteúdos do inconsciente e com eles enriquecer-se, ou então se ele irá se abrir e se entregar ao numinoso que lhe vem ao encontro nos arquétipos do inconsciente, sobretudo no arquétipo de Deus. Do ponto de vista religioso trata-se de saber se eu quero usar Deus e os homens para mim mesmo, para minha própria glória, ou se quero servir a Deus e aos homens, se estou pronto a renunciar aos meus ideais e as minhas imagens de Deus para entregar-me ao Deus verdadeiro, para render-me ao Seu amor.
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