O QUE É O MOVIMENTO DOS IRMÃOS? - parte 4
II. DESENTENDIMENTO E DIVISÕES
No período de 1833 a 1834, atitudes, fatos e várias circunstâncias foram se acumulando ao ponto de produzir divisão no “movimento dos irmãos”. Groves, o que iniciara o movimento, foi um dos primeiros a perceber a conduta e o pensamento de ficar contra as outras igrejas evangélicas por causa de coisas secundárias. Em março de 1836, antes de deixar a Inglaterra para retornar ao seu trabalho na Índia, escreveu uma carta a Darby na qual dizia:
“Vocês serão conhecidos mais pelo que são contra do que pelo que vocês concordam. Vossa união torna-se mais uma questão de doutrina e de opinião do que de vida e amor. Aqueles princípios que eu me glorio de ter descoberto na Palavra de Deus, hoje me glorio ainda dez vezes por ter experimentado sua aplicabilidade a todas as circunstâncias do presente estado da igreja, que nos permitem conviver com cada indivíduo, ou grupo de indivíduos, como Deus os vê, sem nos comprometermos com qualquer dos seus males, aprendi que o nosso princípio de união é a posse da vida comum a toda a família de Deus, “pois a vida está no seu sangue”.
Quando foi acusado de reunir-se com outros grupos, Groves respondeu:
“Eu acho melhor suportar os seus erros do que separar-me do que há de bom neles”, e acrescentou: “As coisas que nos unem são mais importantes do que as que nos dividem”. Dizia também: “Não devemos nos preocupar em sermos diferentes das outras igrejas, mas em sermos semelhantes a Cristo. Eu desejo ter de cada grupo o que cada grupo tem de Cristo”. Segundo ele acreditava, os princípios de comunhão são:
“Amar a todos a quem Cristo ama, aqueles sobre os quais Cristo põe sua bênção, ou que nós próprios reconhecemos como cristãos pela iluminação do Espírito Santo, não por que concorrem conosco em certos pontos, mas, porque são, ligados por uma afeição real ao Senhor”.
Podemos perguntar, disse Groves:
“Que fazer com os erros? Não são um impedimento à comunhão? Eu entendo que devemos ter participação com a assembléia em que há o doce sabor de Cristo, onde nossas almas são edificadas, onde o Senhor está presente com aqueles que ministram e com os que ouvem. Devemos ir onde o Senhor se manifesta, abençoando e salvando, porque ali é um lugar santo”.
Continua ainda a afirmar:
“Se considerarmos a igreja em Jerusalém ou em corinto, veremos que havia muita coisa a ser condenada e os apóstolos reprovavam os erros, mas não se separaram. Não podemos nos separar daqueles que não estão separados de Cristo, nem denunciá-los como inimigos. Se houve, na Terra, uma testemunha fiel, esta testemunha foi Jesus, e ele nunca se afastou das sinagogas. Isto prova que a separação não é o único meio de testemunhar, e Jesus era separado dos pecadores; não de suas assembléias e pessoas, mas separado dos seus pecados. Eu devo receber todos como Cristo os recebe, para a glória de Deus Pai”.
Darby, ao contrário, insistia que as igrejas existentes haviam se afastado das normas do Novo testamento, e a isto ele denominava de “o mal”, e dizia que o verdadeiro cristão deveria afastar-se delas.
Quando as divergências começaram a tornar-se públicas, Groves, que estava na Índia, escreveu:
“… se estes que confessam estarem andando na graça e singeleza de coração não podem andar em amor e união, levando a carga uns dos outros, cumprindo a lei de Cristo (Gl 6:2), quem poderá fazer?”
Darby era humilde e de personalidade cativante; paciente e afetuoso para com os fracos, pobres e de nível intelectual inferior, porém, quando alguém que era do seu mesmo nível intelectual se lhe opunha, recebia dele um tratamento cujas palavras ficavam indeléveis em sua memória.
Era dono de uma personalidade imensa e complicada. Era um gênio, e, como só acontece com estes, era psicologicamente anormal. Devido à sua imensa devoção a Cristo, zelava para que a igreja fosse pura, porém, pelo seu temperamento, seu modo de entender as coisas, fez com que suas atitudes causassem a desonra ao nome de Cristo a quem ele tanto amava. Agia como tendo uma chamada direta de Deus, como alguém que considerava estar no caminho certo; considerando inimigos de Deus todos os que dele discordavam.
Por estar sempre em viagens fora da Inglaterra, Darby foi perdendo sua influência na assembléia de Plymouth. Newton, com sua personalidade autocrática, começou a tomar decisões e atitudes na assembléia que feriam seus companheiros e negavam os princípios pregados pelos “irmãos”. Também escreveu vários estudos de natureza profética e sobre a humanidade de Cristo que entravam em desacordo com as interpretações de Darby. Em alguns destes estudos Newton passou dos limites aos quais é possível ao homem fazer afirmações. Darby acusou Newton de ter reintroduzido no movimento o espírito eclesiástico. Assim, de desentendimento em desentendimento, Darby acabou rompendo com Newton e com os que o apoiavam na assembléia à rua Ebrington, em Plymouth, estabelecendo uma capela `a rua Raleigh, também em Plymouth.
George Müller e Craik, de Bristol, bem como Chapman, de Barnstaple, dedicavam-se intensamente ao seu trabalho no evangelho, não se ocupando com controvérsias. Porém, haviam estabelecido presbíteros em suas igrejas, fato este que desagradava a Darby. Entretanto, em 1847, aconteceu que uns irmãos da assembléia de Newton foram a Bristol e a assembléia de Bethesda (onde reuniam George Müller e Craik) permitiu que eles participassem do partir do pão. Ao saber disto, Darby rompeu com a assembléia de Bethesda e todos ligados a ela, inclusive Cahpaman. Ficou assim concretizada a divisão no “Movimento dos Irmãos” na Grã-Bretanha, espalhando-se também para outros países. Assim sendo, surgiram dois grupos distintos, o dos “Irmãos Exclusivista” (Exclusive Brethren), composto por Darby e seus seguidores, e o dos “Irmãos Livres” ou “Tolerantes” (Open Brethren). Este era constituído dos que tomavam a mesma atitude de tolerância como Müller, Craik, Chapman e Groves. Os exclusivistas, com seu espírito intolerante, têm sofrido sucessivas divisões e cada grupo vai criando o seu próprio princípio de divisão.
Darby dizia que uma assembléia que não está disposta a receber todos os filhos de Deus em sua comunhão, como pertencentes ao reino de Deus, não pode esperar plenitude de bênção. Dizia também: “Qualquer outra exigência que restrinja os laços de comunhão faz-me lembrar aqueles que dividiram as vestes do Salvador”. Darby via o mal das divisões, mas nunca achou o meio de realizar, na prática, esta tão almejada união. Desejava a Igreja unida, mas estabelecia suas próprias condições para esta unidade. Quando uma assembléia não concordava com suas idéias era simplesmente taxada de infiel e colocada de lado...
Continua...
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