O QUE É O MOVIMENTO DOS IRMÃOS? - parte 2
O Movimento dos Irmãos
Prefácio
Sempre busquei saber a nossa origem, porém sem obter sucesso. Me afligia fazer parte de um grupo que, ao que me parecia então, não tinha história. Busquei entre os irmãos mais antigos, mas ninguém sabia me informar nada. Quando fui estudar no Seminário Bíblico Palavra da Vida comecei a rebuscar na biblioteca vestígios do nosso movimento. Porém, pouco pude descobrir. Mas agora já sabia que o nosso movimento tinha começado no Reino Unido e era conhecido nos outros países como “Irmãos”. Uma luz começou a brilhar!
Um dia meu professor de História da Igreja me disse para procurar na Enciclopédia Britânica, pois lá deveria haver alguma informação. Foi ali que encontrei o primeiro texto confiável sobre a nossa história. Depois, quando retornei definitivamente para a minha igreja local fui presenteado com o livro “Os Irmãos” de autoria de Silas Filgueiras. Este livro veio encher uma grande lacuna histórica que havia em mim. Nele pude ver confirmadas e ampliadas as resumidas informações que até então conseguira coletar.
Mas logo se levantaram alguns questionando a fidelidade das informações contidas no livro “Os Irmãos”. Então parti novamente em busca de material. Em português só encontrei os escritos do irmão Stuard Edmund Mc Nair. Mais uma vez encontrei ali apoio para a idéia geral transmitida pelo livro “Os Irmãos”. Então decidi fazer este resumo para que os mais ocupados pudessem ler e ter uma noção da nossa origem. Isto é saudável e nos ajuda a entender melhor de onde viemos e no que nos tornamos.
Devo confessar que este livro me mostrou que nos desviamos da idéia original dos fundadores do Movimento dos Irmãos Unidos. Em alguns casos nos tornamos naquilo que eles combatiam e lutaram para mudar. Que incoerência!
Há poucos dias fui brindado com outra pérola, um livro escrito por um irmão Norte Americano chamado “Assuntos de Família” (“Family Matters”). Este livro é simplesmente maravilhoso!!! E tem mais: ele confirma que o livro do irmão Silas é fiel aos fatos. Estes dois irmãos nem ao menos se conhecem e expõem basicamente os mesmos fatos, da mesma forma. Isto, para mim, é evidencia mais do que necessária. Duas pessoas tão distantes, de tão diferentes culturas escrevendo sobre o mesmo assunto e concordando na sua exposição é prova de que os fatos realmente ocorreram como narrados.
Este segundo livro não está inserido neste resumo, mas assim que puder iremos publicá-lo em português. Só falta captar os recursos pois a autorização já foi dada pessoalmente pelo autor. Com certeza este livro preencherá uma lacuna para aqueles que são amantes da história.
Desejo que a leitura e reflexão da nossa história possa levá-lo (a) a andar mais perto da vontade do nosso amado Salvador em relação a Sua Igreja.
Um povo que não conhece a sua história está fadado a cometer os mesmos erros que cometeram os seus antepassados.
I. O INÍCIO DO MOVIMENTO
O início do movimento dos “Irmãos Unidos” deu-se, aproximadamente, em 1825 na cidade de Dublin (Irlanda). Um dos fatos marcantes que levou este movimento a surgir foi a preocupação de um grupo de homens com a condição espiritual da igreja reformada na Irlanda. No castelo de uma mulher conhecida como condessa Powescourt, homens das diversas denominações, então existentes, iniciaram reuniões mensais para estudos bíblicos. No início, eles encontravam-se apenas para o estudo das Sagradas Escrituras e para a oração. Até então os participantes permaneciam em suas respectivas igrejas de origem.
O principal iniciador deste movimento foi um homem chamado Antony Norris Groves. Ele era um jovem e bem sucedido dentista de 31 anos de idade. Ele afirmava:
“Ser sua compreensão, do estudo das Escrituras, que crentes, reunindo-se como discípulos de Cristo, estão livres para partir o pão juntos; e, em qualquer dia, como os apóstolos fizeram, relembrarem a morte do Senhor obedecendo ao seu mandado”.
Nesta época iniciou-se o desligamento do “movimento dos irmãos” dos demais círculos eclesiásticos e de sua autonomia. Foi Groves que, por assim dizer, deu o “pontapé” inicial para a criação deste importante movimento. Contudo, devido a algumas circunstâncias posteriores, John Nelson Darby alcançou maior notoriedade dentro e fora do movimento. Assim, erradamente, muitos o têm como o iniciador do “Movimento dos Irmãos”.
Groves nasceu na Inglaterra em 1795. Aprendeu odontologia com um tio, foi estudante de química e adquiriu prática em hospitais. Começou a trabalhar como dentista em Plymouth . Casou-se com uma prima e mudou-se para Exeter. Quando ainda estava em Plynmouth fora fortemente influenciado por dois clérigos e, tal foi esta influência, que reviveu nele uma convicção da sua chamada para o serviço missionário. Esta tornou-se a ambição central da sua vida.
Groves propôs que é o simples princípio de união e amor a Jesus, e não o princípio de unidade de pensamento acerca de coisas menores, a base da reunião para partir o pão. Quando lhe sugeriram que se unisse aos batistas ele afirmou:
“Eu desejo andar com todos naquelas coisas em que servem a Cristo, mas eu não quero ajuntar-me com um grupo impedindo-me de reunir-me com os outros”.
Em outra oportunidade disse:
“Eu não faço distinção e estou pronto a partir o pão e beber o cálice de comunhão com todos os que amam ao Senhor e não negam seu nome. Cada verdadeiro crente é uma pessoa santa, porque Cristo habita nele e se manifesta onde ele adora; mesmo que suas faltas sejam tantas quantos os cabelos da sua cabeça, meu dever ainda é, com meu Senhor, juntar-me a ele em qualquer trabalho do Senhor em que ele possa estar ocupado”.
Naquela época, haviam na Inglaterra, Escócia e Irlanda as igrejas oficiais (Anglicana, Escocesa e Irlandesa) e as outras denominações que mão concordavam com a união da igreja com o Estado. Dentre estas estavam a Igreja Presbiteriana, a Igreja Batista, e Igreja Congregacional ou Independente etc. Por não concordarem com a união da igreja com o Estado eram chamadas de igrejas dissidentes.
Em uma visita a Dublin, em 1828, Groves disse:
“Eu não tenho dúvida que está de conformidade com a vontade de Deus nos reunirmos em toda simplicidade, como os discípulos, não almejando nenhum púlpito ou cargo, mas certos de que o Senhor nos edificará juntos, como lhe aprouver, e usará um dentre nós mesmos”.
Nisto baseou-se e este foi um dos fundamentos do “movimento dos irmãos”. Também o professor Basil Willey escreveu: “O Senhor usa aquele que lhe apraz para realizar o trabalho, não havendo, entre os remidos de Cristo, divisão entre ordenados e não ordenados”.
Nesta mesma ocasião, pequenos grupos, por não se sentirem bem nas igrejas então existentes, se reuniam em diferentes partes da cidade de Dublin. Um destes grupos havia se formado em torno do Dr. Edward Cronin, um dentista, que viera de uma cidade irlandesa chamada Cork. Ele havia sido convertido do catolicismo romano. Ao chegar em Dublin foi bem aceito em diversas igrejas como visitante. Contudo, quando passou a residir definitivamente em Dublin, disseram-lhe que, para poder participar do partir do pão, teria que se filiar a uma destas igrejas. Então ele se viu obrigado a participar de um grupo específico em exclusão dos outros. Em sua compreensão, Cronin comparava os vários grupos existentes como regimentos dos soldados do Senhor. Porém, devido a esta exigência, ele viu que, na prática, não era bem assim e acerca disto escreveu: “Vi que eles dirigiam suas armas uns contra os outros em vez de dirigir o fogo contra o inimigo comum”.
Em novembro de 1829, Hutchinson ofereceu ao seu grupo um quarto de sua casa para reunirem-se, trocar idéias quanto a sua posição e também para partir o pão. Eram ao todo cinco pessoas: Bellet, Brooke, Cronin, Hutchinson e Darby.
Havia outro grupo que, já por alguns anos, se reunia em outro local da cidade com a mesma finalidade. Neste grupo estavam: Wilian Storkes e Parnel, este era um amigo de Groves. Nesta época Groves já havia partido para o campo missionário. Ele partira em 12 de junho de 1828, juntamente com a família, para Bagdad, na Pérsia. Este foi o primeiro grupo de missionários do “Movimento dos Irmãos Unidos”.
Em maio de 1830, Parwell, que acompanhara Groves até a Rússia, tendo percebido a firmeza daquele pequeno grupo, propôs a mudança das reuniões para um lugar mais público que ele alugara em uma rua chamada Augier. Este, provavelmente, foi o primeiro salão de reuniões do grupo dos “irmãos unidos”. Neste tempo Darby ainda estava ligado a Igreja Anglicana, onde exercia atividade como ministro.
O GRUPO DE BRISTOL
Henry Craik, um jovem batista intensamente dedicado aos estudos lingüisticos e teológicos, e George Müller, um jovem alemão que havia se preparado para ser ministro luterano, começaram este trabalho em uma capela que não estava sendo usada – a capela Bethesda. Começaram o trabalho nesta capela em 6 de junho e em 13 de agosto de 1832, Müller registrou no seu diário que na tarde deste dia “um irmão, quatro irmãs, Craik e ele se reuniram na capela Bethesda sem qualquer regra, desejando somente agir conforme o Senhor aprouvesse dar-lhes iluminação através da sua Palavra”. Assim eles iniciaram este trabalho inteiramente nas linhas que eles acreditavam ser de acordo com o ensino bíblico.
Na capela Bethesda desenvolveu-se a parte mais construtiva em pensamento e ação no testemunho e na expansão do trabalho missionário no início deste século. A vida de Müller foi um exemplo de santidade e confiança na oração. Craik foi um dos mais eruditos entre os “irmãos” dos primeiros anos do movimento.
O GRUPO DE PLYMOUTH
Em visita a Dublin, Francis Newman conheceu John Nelson Darby, ficando fortemente influenciado pela sua personalidade. De certa feita, ao ouvir Darby ler e explicar um salmo, ficou muitíssimo impressionado, pois que Darby, apesar dos seu aspecto simples, expunha a palavra com ternura, abrindo assim o coração dos ouvintes.
Em Plymouth, Newton e Wigran encontraram outros interessados no estudo das profecias bíblicas. Newton convidou Darby para visitar Plymouth como seu hospede, e ele foi. As reuniões se intensificaram. Wigran, vendo a possibilidade de estabelecer um trabalho permanente adquiriu uma capela; uma pequena casa à rua King, onde eram feitas regularmente as reuniões, e onde também partiam o pão. Nem Darby, nem Newton estavam de acordo em ter um local reservado para as reuniões, preferindo realizá-las em casas particulares. Isto se devia ao fato de que ainda não haviam se desligado da Igreja Anglicana . Mesmo depois de Newton ter se desligado da Igreja Anglicana, Darby continuou ligado a ela. As pregações do também integrante deste grupo, Percy Francis Hall, atraiam um grande número de ouvintes. Assim formou-se uma forte igreja independente, excedendo de longe as de Dublin e Bristol. Pela notoriedade desta igreja em Plymouth, foi que os “irmãos” ficaram conhecidos, nos países de língua inglesa, pelo nome de “Irmãos de Plymouth”.
Logo depois, não só pelo seu número, mas porque dentre os seus integrantes estavam alguns dos homens mais proeminentes do princípio do movimento, a assembléia de Plymouth tornou-se a mais importante entre o “movimento dos irmãos”. Uma vez que Darby estava sempre a viajar e alguns dos mais eruditos mudaram-se de Plymouth, quem passou a liderar esta assembléia foi o irmão Benjamim Willis Newton. Como o número da assembléia de Plymouth estava crescendo muito, e como entre os novos havia grande parte de letrados, receando que pessoas pouco dotadas ou inconvenientes assumissem o púlpito, escolheram para o trabalho de supervisor o irmão B. W. Newton, evitando assim participações pouco proveitosas. Esta assembléia chegou a contar com o número de mais de setecentas (700) pessoas.
Vieram fazer parte desta igreja local alguns elementos de valor como: James Lampen Harris (que com quarenta anos era o mais velho de todos) e Samuel Prideuax Tregelles. Este, alguns meses depois de se juntar ao grupo, foi trabalhar com Wigran na sua obra intitulada: “Englisman’s Greek and Hebrew Concordance”. Este trabalho contribuiu para que mais tarde Tregelles ocupasse lugar de proeminência na crítica textual bíblica. Ele havia aprendido grego, hebraico e aramaico na adolescência e, ainda nos nossos dias, é considerado uma das maiores autoridades no texto grego do Novo Testamento.
Em 1834, foi publicado em Plymouth o primeiro periódico dos “Irmãos” intitulado: O Testemunho Cristão. Foi publicado de janeiro de 1834 até janeiro de 1841. Seu editor escreveu:
“A igreja consiste não em ritos e cerimônias, mas, onde “dois ou três estão reunidos no Seu nome, ali está Ele no meio deles, ali é um refúgio aberto para o mais fraco do Seu povo”.
Resumindo, podemos dizer que por volta de 1834 o “movimento dos irmãos unidos” estava bem estabelecido, com igrejas em muitas cidades da Inglaterra, Escócia e Irlanda, já contando com um corpo de doutrinas bem conhecido.
Groves agora estava na Índia com seus companheiros e o movimento já se espalhara pela Europa Continental (França, Itália, Suíça, Bélgica, Holanda) e, também, havia atingido a Ásia, a Nova Zelândia, Estados Unidos etc.
(continua...)
Artigo completo em: https://jabesmar.com.br/o-movimento-dos-irmaos/
Deus abençoe você abundantemente!
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