Como Conhecer a Deus
Por T. S.(WATCHMAN) NEE do livro "Conhecimento ESPIRITUAL" Traduzido por Wanda Assumpção
No jardim do Getsêmani, o Senhor Jesus orou perguntando qual era a vontade de Deus. Ajoelhando-se, orou: "Pai, se queres, passa de mim este cálice; contudo, não se faça a minha vontade, e, sim, a tua" (Lucas 22:42). A Bíblia diz que ele orou a segunda e a terceira vez da mesma maneira. Não orou apenas uma vez e deixou de lado o assunto. Não, ele orou três vezes. E, quando se ergueu da oração, isto é, depois de ter acabado de orar, o Senhor foi até aos discípulos e disse-lhes: "Ainda dormis e repousais! eis que é chegada a hora, e o Filho do homem está sendo entregue nas mãos de pecadores" (Mateus 26:45). Orando no Getsêmani, ele disse: "Se possível, passe de mim este cálice!" (Mateus 26:39); mas quando Pedro sacou da espada e cortou a orelha do servo do sumo sacerdote, o Senhor declarou: "Não beberei, porventura, o cálice que o Pai me deu?" (João 18:11).
Portanto, durante a oração no jardim do Getsêmani, o cálice parecia ainda duvidoso; mas após ter-se erguido da oração, Jesus já não tinha dúvidas sobre o cálice que estava pronto a sorver. Orando três vezes, conseguiu conhecer a Deus. Nada tomaria como certo, mas buscaria conhecer a Deus tratando com ele em oração. No jardim, ele tratou com Deus ao mesmo tempo que Deus tratou dele. Havia um espinho na carne de Paulo. Não tentarei identificar esse espinho. Basta dizer que era algo que o fazia sentir-se desconfortável e que o trespassava como um espinho. Referiu-se também o apóstolo a ele como mensageiro de Satanás; portanto, deve tê-lo perturbado bastante. Sem o poder de Cristo, Paulo não teria sido capaz de suportar esse espinho.
Três vezes ele orou, pedindo ao Senhor que removesse o espinho. Mas disse--lhe o Senhor: "A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza" (2 Coríntios 12:9). Será que ele orou quarta vez? Não, pois depois da terceira vez o Senhor respondeu e a questão tinha sido resolvida pela sua palavra. Paulo nada decidiu por seu próprio conhecimento; antes, tratou com Deus em oração para se assegurar da vontade divina a respeito desse problema específico. Através das experiências de nosso Senhor e do apóstolo, descobrimos um princípio: se alguém desejar conhecer a Deus, tem de aprender a lidar com ele. Em outras palavras, precisa tratar com Deus e ser tratado por Deus.
Muitos cristãos descuidadamente deixam que dificuldades ou problemas passem sem o devido tratamento de Deus. Não sabem por que ele lhes manda essas dificuldades. Tais pessoas podem ler a Bíblia diariamente e parecer que têm algum conhecimento e luz, e, no entanto, ignorarem a mente divina. Seu conhecimento é obviamente insuficiente.
Por esta razão, amados, precisamos tratar com Deus e receber tratamento de Deus; então verdadeiramente o conheceremos. Na Prática Deixem-me exemplificar. Todos nós temos algum pecado particular que facilmente nos enreda. Alguns são perturbados por este pecado, enquanto outros são levados a cair por aquele pecado. Alguns não conseguem vencer o orgulho; alguns não conseguem vencer o ciúme; alguns não conseguem vencer o mau gênio; alguns não conseguem vencer o mundo, e alguns não conseguem vencer as concupiscências da carne. Cada um tem o seu pecado particular. Está consciente dele mas não consegue vencê-lo. Lê, um dia, em Romanos 6:14 que "o pecado não terá domínio sobre vós" e em Romanos 8:1-2 que "agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus. Porque a lei do Espírito da vida em Cristo Jesus te livrou da lei do pecado e da morte".
Está agora de posse do conhecimento dessas passagens; e, ainda assim, não consegue vencer o seu pecado. A verdade que possui não pode ser posta em prática. Temo existirem muitos irmãos que se encontram em dilema semelhante. Se outro crente que não consegue vencer o pecado vem pedir-lhes ajuda, talvez consigam falar longamente sobre a importante doutrina de como vencer o pecado, apesar de na realidade eles próprios ainda estarem amarrados pelo pecado. Conseqüentemente, o irmão que vem buscar ajuda voltará para casa armado de algum conhecimento sobre como vencer o pecado, sem a experiência de como fazê-lo. Isto significa que o que ouviram nada mais é do que o mero conhecimento das Escrituras; não foram tratados por Deus, portanto não conhecem o seu poder. Como, então, conhecer a Deus através de seus tratamentos? Suponha que você seja uma pessoa que se irrita facilmente. Você vai a Deus em oração a respeito desse problema. Ao mesmo tempo, pede conselho a alguém sobre como vencer esse pecado. O irmão pode lhe dizer: você deve pedir a Deus que extirpe a raiz do pecado do mau gênio da mesma maneira como você extrairia um dente estragado. (Gostaríamos que isto fosse verdade, apesar de sabermos que é absolutamente impossível. O pecado não pode ser arrancado, pois quanto mais puxarmos, mais firmemente se ancorará! Tal conselho não vai ajudar nem um pouquinho, já que é totalmente inaplicável à experiência.) Após ter sido assim aconselhado, você ora a Deus nesse sentido. Ao invés de o pecado ter sido arrancado, você percebe que ele se aprofundou.
No entanto, você é daqueles que temem a Deus. Não vai ignorar o pecado que não consegue vencer. Precisa tratar com Deus. Irá até ele em oração — não uma, mas duas vezes ou três vezes, perguntando-lhe qual é o problema afinal. Ao fazer isso, Deus lhe mostrará a verdade de Romanos 6:6, que ele não lida com o corpo do pecado, mas sim com o velho homem. Ele não arranca a raiz do pecado da carne, mas prega o velho homem na cruz. Depois de algum tempo, você se encontrará de mau humor novamente.
Então, procura outro irmão para que o ajude. Talvez ele lhe diga que como o velho homem foi crucificado com Cristo na sua morte, você precisa agora reconhecer que já está morto, e então vencerá. Você terá agora ganho um pouquinho mais de novo conhecimento. Quando chegar a tentação, você se reconhece morto. Quem haveria de pensar que, por mais que você reconheça o fato, ainda perde o controle de seu mau gênio? Este método não funciona. Apesar de a Bíblia declarar expressamente que ao reconhecer, podemos vencer, você não vence. Se for temente a Deus, buscará o Senhor uma vez mais. Então, ser-lhe-á revelado que o reconhecimento não começa na hora da tentação, mas que há mais de mil e novecentos anos você já havia morrido com Cristo. Seu coração deveria, portanto, descansar na obra acabada de Cristo.
Toda vez que a tentação chegar, você sabe que o seu velho homem morreu há mais de mil e novecentos anos. Conseqüentemente, não tem necessidade alguma de compreender nenhuma palavra, mas simplesmente descansar no que Deus já fez por você. K Não muito depois disso, ao ser tentado, você perde a paciência de novo. Se não for temente a Deus, é provável que a esta altura você desista. Mas você teme a Deus, e portanto não se satisfaz com o mero conhecimento bíblico. Vai a Deus de novo, dizendo: “Ó Deus, tua palavra declara que meu velho homem foi crucificado com Cristo; então, por que ainda não consigo vencer meu pecado?" Mais uma vez você debate com Deus. Ele lhe mostra onde você falhou. Dirlhe-á que permitiu que caísse porque você não conhece a corrupção de sua carne. Você depende muito de si mesmo.
Assim, você aprende outra lição. Conhecer a si mesmo — isto é, conhecer a corrupção de sua carne — leva-o a deixar de confiar na carne e a implorar humildemente a Deus que o preserve. Entretanto, com o passar do tempo, você cai uma vez mais. Sendo uma pessoa temente a Deus, dirige-se a ele novamente, dizendo: "Por que não consigo vencer o meu pecado? Já reconheci que meu velho homem está morto; já conheci minha carne; por que ainda estou sujeito a cair?" Você ora uma, duas, três vezes, talvez até uma quarta ou quinta vez. Implora a Deus que fale com você. Finalmente, ele lhe dá uma revelação. Faz você compreender que o pecado é como o fruto de uma árvore. Da mesma forma que a árvore da vida produz um tipo diferente de fruto a cada mês, assim também a raiz do pecado produz milhares de tipos de fruto. A raiz é uma só, mas o fruto se multiplica dia a dia.
Você está sempre tratando de um pecado particular, e no entanto negligencia outros pecados. Enquanto esses outros crescem, você retorna àquele velho hábito particular de pecar. Ao lidar com o mau gênio, você ignora outros pecados. E à medida que as manifestações de outros pecados aumentam, o pecado do mau gênio logo se segue. Você se esquece de tratar do seu orgulho e ciúme, de seus pensamentos impuros, de seus muitos outros pecados. Se você tratar apenas do mau gênio, quanto mais tratar dele, mais será derrotado. Mas se tratar de todos os pecados, Deus o abençoará.
Ao obter todo este conhecimento, pode supor que está agora a caminho da vitória e, portanto, passar o resto da vida em paz. Inesperadamente, porém, o pecado reaparece e você cai de novo. Desta vez, o caso é realmente grave. Não há como ignorá-lo. Aproximar-se-á de Deus uma vez mais e lhe pedirá que trate de você. Após ter orado uma ou duas vezes, você recebe uma nova revelação: E que tal a sua vida após ter obtido a vitória? Deus mostra aqui que a obra acabada de Cristo só pode ser mantida mediante comunhão com ele. Mostra--lhe que suas orações e leitura da Bíblia têm sido um desapontamento, como você se tem levantado tarde demais todos os dias, e conseqüentemente algo anda errado em sua comunhão diária com ele.
Deus não sugere que a obra de Cristo na cruz foi um desapontamento; quer dizer com isto apenas que o que Cristo fez na cruz tem de ser mantido vivo na atmosfera de sua comunhão com o próprio Deus. Talvez, alguns dias depois, você novamente perca o controle. Novamente ora e pede a Deus que trate de você. Desta vez, ele pode mostrar-lhe que está tudo bem com você exceto que deixou de guardar um mandamento especial. Será algo que ele exige especialmente de você.
Você já se sente tocado, mas inventa desculpas e demora a obedecer. Como resultado, ele lhe permite perder a vitória. Por causa de sua desobediência neste outro aspecto, reaparece o antigo pecado (mau gênio). Portanto, meus amigos, não pensem que por só terem desobedecido uma vez aqui e outra acolá, podem esperar vitória sobre o pecado. Mencionei freqüentemente no passado que o segredo da vitória é confiar e obedecer. Qualquer enfraquecimento em qualquer ponto na obediência irá inegavelmente enfraquecer a fé da pessoa.
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